ESPETÁCULO DIVERTIDÍSSIMO ABORDA INFERNOS PARTICULARES


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De fato, todos nós temos sérios problemas sexuais

Téo Júnior *

Se existe um assunto que o teatro soube explorar à exaustão, com certeza é o sexo. Desde os gregos (“Édipo-Rei”, por exemplo, realçou o incesto, terrível e chocante, porque relacionado a um tabu social), passando pela crise e a monotonia do casamento, onde os cônjuges, já saturados, cogitam sem qualquer disfarce até mesmo o adultério – circunstância que Albee compôs como ninguém – até chegarmos aos instintos mais baixos do ser humano – leia-se devassidão – verificados nos textos de Genet e no universo quase sempre pantanoso de Nelson Rodrigues, com as “bonitinhas, mas ordinárias” da vida.

Desde os tempos inenarráveis de Calígula, até os dias que correm, a humanidade jamais parou de fazer sexo – tanto para fins de procriação ou como um mero passatempo. “Senhor, concedei-me a virtude da castidade – mas não agora!”, escreveu Santo Agostinho.  

Em “Todo Mundo tem Problemas Sexuais”, de Domingos Oliveira e Alberto Gondim, são abordados esses infernos no tocante à intimidade das pessoas. E aí entramos num campo minado – e sombrio, já que a sexualidade sempre acompanhou a vida dos indivíduos considerados saudáveis, e cuja finalidade é proporcional prazer e bem-estar, mas que acaba se convertendo num fardo. A lista é extensa e penosa: surgem o fantasma da impotência, homossexualidade, traição, os encontros na internet que quase sempre culminam em frustração, sexo grupal (sic!) e um repertório enciclopédico de palavrões que faria a alegria de uma Dercy Gonçalves.

A peça resulta interessante porque, dividida em 6 quadros, destaca situações que seriam consideradas dramáticas numa primeira instância, para no palco elas se transformarem em objeto de comicidade. Embora mergulhados em suplícios aterradores, paradoxalmente manifesta-se nesse povo o desejo incontrolável de prosseguir sua atividade (ou tara) sexual.

Em cena, apenas uma cama por onde todos os personagens passam. Há tipos demasiadamente pitorescos, como o baiano safado (Eduardo Albuquerque) da 1º. quadro que se apaixonou pela colega farmacêutica (Mariana Moreno; não se sabe qual deles é o pior) e uma protestante ninfomaníaca (Cida Oliveira) que teve a cara de pau de trair o marido na própria casa, com o patrão dela, gordo e bêbado.  

Não diria que o espetáculo fora maravilhoso, não há a necessidade de exagerar, mas fora bem trabalhado. Os textos ficaram claros e estabelecidos de modo cuidadoso; uma produção caprichada, os atores estavam seguros de seus papéis e as soluções dramatúrgicas para temas tão variados foram inteligentemente desenvolvidas. Em suma, uma peça divertidíssima e muito responsável.

 O PÊNIS QUE FALA

Mas, caminhando para o final, o espetáculo desabou num precipício: eis que surge em cena, inesperadamente, um sujeito trajando roupão e uma touca cor de rosa, de um excepcional mau gosto, dizendo-se o personagem “mais importante” da história e reivindicando o direito de “se manifestar”. Identificou-se como sendo o pênis. (Ah, Meu Deus...). É impressionante o festival de besteira que assola o teatro e que eu sou obrigado a aturar. Onde já se viu isso? Então, o órgão masculino narra sua “via-crúcis” e, ironicamente, fora o quadro que mais agradou ao público, a julgar pelas gargalhadas quase que histéricas que se ouvia. Num determinado momento, ele admite que Fernando Gomes não soube como terminar a apresentação e pediu que ele falasse o que quisesse. O recurso que os sábios de outrora classificaram de “deus ex machina” pôde muito bem ter funcionado nas tragédias gregas, mas em “Todo Mundo” foi sinceramente catastrófico.  

Ora, se o diretor não soube encerrar dignamente a peça, a incompetência é dele. Salvou-se, além dos mencionados, o desempenho de Kadu Veiga e “Todo Mundo”, exibida no feriado do dia 15 atingiu uma audiência que raras conseguem: todas as cadeiras do Teatro Tobias Barreto foram ocupadas. Durou 2 horas.

 *É crítico de teatro. Contato: junior_teo

Publicado no jornal Cinform do dia 21/11/2011, pg. 5 

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