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Fala-se amiúde em excluir os clássicos das
escolas. Os defensores dessa ideia dizem serem as obras inacessíveis aos jovens.
Os clássicos seriam datados e diriam pouco às massas de adolescentes oriundas
das camadas pobres. Melhor proveito tirariam eles em ler as obras mais “acessíveis”
(entenda-se os best sellers). O
curioso é que, só na cabeça dos defensores, da exclusão dos clássicos das
escolas, ocorre pensar que eles são inacessíveis as camadas populares. Desde
sempre a literatura dita, canônica, esteve intimamente ligada as raízes
populares em parcerias insuspeitas. Veja-se a propósito o caso do livro O
Guarani. Anos depois de Carlos Gomes estrear a sua versão musical da obra de
José de Alencar no Teatro Scala de Milão, as histórias de Peri e Ceci
ressurgiriam em uma bela intertextualidade do clássico com o popular no
carnaval de 1937. Quem encarregou-se da tarefa foi o compositor Príncipe Pretinho e teve como interpretes o Trio de Ouro: Dalva de Oliveira, Herivelto
Martins e Nilo Chagas. A marchinha foi gravada no primeiro disco do trio. O
Guarani também inspirou vários sambas-enredos de sucesso, que desfilaram pelo
carnaval através da interpretação popular. A Império Serrano levou para avenida em 1954 o enredo: O Guarani, baseado na obra de J. de Alencar e inspirada na
música de Carlos Gomes; em 1971 foi a vez da Unidos de Bangu desfilar na
avenida com o enredo: O Guarani, de José de Alencar; em 1990 quem encantou o
público, recontando no carnaval a saga do amor de Ceci e Peri, foi a União de
Vaz Lobo (Guaraná, Guarani). Esses são alguns dos exemplos da relação de
proximidade entre o clássico e o popular. Tivemos outros sambas-enredos,
inspirados na obra do Cearense José de Alencar. Não só José de Alencar e sua
obra magistral mereceram honraria iguais, outras grandes obras da nossa
literatura também foram acarinhada pelo popular em marchinhas, sambas e outras
manifestações que denunciam a sua inquestionável relação de proximidade. Agora
pergunto? Como pode ser tão inacessível, uma obra que esteve sempre ligada as
fontes de inspiração popular? Seriam hoje os nossos jovens tão atabalhoados que
não se dariam conta daquilo que foi tão evidente em outros tempos, por quem
teve bem menos acesso a informação do que eles?
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