Um amigo recomenda-me a
leitura dos poemas de certo Georg Trakl. “Leia
os poema, mas evite seguir seu comportamento”. Não que eu acredite que os
poetas estejam acima do bem e do mal, ou que suas vidas sejam exemplos para
grandes coisas, mas todas às vezes que a recomendação de um autor vem seguida
de um lembrete para se distanciar de sua vida, sinto que irei gostar muito
desse artista.
Não conheço esse poeta
e não sei o que ele fez de tão cabeludo para merecer a recomendação de não ser
seguido. Porém, me encantam, os autores malditos. Para mim há mais verdades
naqueles que molestaram as certezas estabelecidas - e sinto que essas sejam as
razões de tantas recomendações - do que naqueles que insistem na fossilização
da vida.
Os poetas e artistas em
geral tornaram-se suspeitos, por não aceitarem passivos os arreios tirânicos impostos
a todos àqueles que sentem de forma insuspeita a sua vida. Miller, De Quincey, Plinio
Marcos, Genet, Bukovsky, Baudelaire, Rimbaud, Sade, Maquiavel, Hilst, Pavese,
Passolini, e outros tantos, estão no rol desses infratores da moralidade vigente.
Feito kamikazes eles se
atiraram contra as instituições fajutas implodindo seus valores de fachada. Só
por pressentirem a vida, da forma que ela lhes apresentava, insuficiente;
insubmissa e intolerável, eles foram tachados de rebeldes, desordeiros,
malucos, bandidos e outros adjetivos e qualificativos assepticamente moldados
para distanciar o público do contágio de suas pragas.
Para mim, tantas
reservas, tentam invisibilisar alguém que por sua postura inconveniente
tornou-se pernosa non grata ao status quo, e por imerecida
justificativa foram lançadas à margem da sociedade. A melhor maneira de
desmoralizar alguém é sempre distorcer a sua imagem. Dar-lhe os predicados que justifiquem
a distância das maleitas que carregam aqueles malfeitores, bandidos, escroques
e degenerados. Os julgamentos morais quase sempre são feitos com base nas
aparências. Infringir os limites estabelecidos pela sociedade pode render àqueles
subversivos, transtornos para o resto da vida.
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