Esforçamo-nos a vida toda por sermos bons,
justos e honestos. Mas vêm as circunstâncias e nos arranca todas as nossas
melhores determinações. Azar, acaso ou injustiça social, chamemos do que quisermos,
o certo é que estamos à mercê de forças que, às vezes, não podemos, mesmo
querendo, controlar. Alguns de vocês devem estar agora mesmo recriminando-me
por julgar essas qualidades circunstanciais. Por certo vocês, se assim me avaliam,
as têm como inatas ou indivisíveis de alguns homens, mesmo em situações
opressivas. Pensam que os índios, as crianças, os religiosos, os santos e
outras qualidades de homem, espelham aqueles dotes que vocês tanto almejam crer
indissociável da alma humana. Creem-na, como uma marca divina, a única talvez,
que os permitam aliar o homem a um deus todo poderoso criador do céu e da
terra, bem como desse ser que insiste, em todas as suas fraquezas e vilanias,
em contradizer as qualidades supremas do criador que os moldou. Se sentem assim
a bondade, a justiça e honestidade tanto melhor para vocês. Não têm que lidar
com questionamentos morais, sociais que desmentem, ao menos naqueles que não
creem nos seus pontos de vista, na ideia de que o homem seja uma fonte
inesgotável de bondade a toda prova. Teorias religiosas que nos persuadam das
qualidades que de certo não temos dão-nos o conforto de não pensarmos além
delas. Se seguros estamos de nossas convicções e cremos nelas, mesmo que isso
não nos dê prazer, ao menos nos evita grandes preocupações, e afasta-nos a
presença da dor de pensarmos em coisas que não deveríamos pensar. Tudo,
portanto, resumi-se a entrega de nossas inquietações às respostas mais fácies.
Nenhum comentário:
Postar um comentário