O que será melhor?
Estar cheio de sede no meio do deserto, ou estar com um copo de água encostado
aos lábios mas sem poder bebê-la? Ter sede é ter sede, seja em que
circunstância for. Mas a penitência será maior se soubermos que temos a
possibilidade de beber a água que não iremos beber.
Daí ser preferível o
estado de inconsciência perante um bem que nos falta, do que viver com a
consciência da sua inacessível existência. A chatice está no raio do
conjuntivo. Uma vida inteligente sem o modo conjuntivo seria menos inteligente
mas muito mais fácil de ser vivida. E tanto me refiro ao presente do conjuntivo
como ao pretérito imperfeito do conjuntivo ou ao futuro do conjuntivo.
O modo indicativo
dá-nos a realidade mas o conjuntivo dá-nos a merda da possibilidade. E se é
verdade que é por via da possibilidade que nos elevamos a um nível de
existência superior, também é por via da possibilidade que nos enterramos no
pântano do sofrimento. Tivéssemos apenas o modo indicativo, passado, presente
ou futuro e esse mesmo passado, presente ou futuro seriam simples, rasos, tão
implacáveis como um nascer ou pôr do Sol. Diríamos "Eu fiz, faço,
farei", "Eu fui, vou, irei", "Eu aceitei, aceito,
aceitarei" com a mesma inconsciência mecânica com que a ninfa Eco repete
os últimos sons de Narciso ou com a mesma determinação com que um animal cumpre
as suas obrigações.
Mas depois vem o
conjuntivo e estraga tudo. Olha-se para o passado e pensa-se no que poderia
teria sido, olha-se para o futuro e pensa-se no que poderá vir a ser. E, a partir
daí, tudo se torna labiríntico, tortuoso, infinitamente complexo.
Eu gosto do mito
adâmico e não me desagrada a ideia de ser filho de Adão. Mas foi com Tântalo
que começámos verdadeiramente a ser humanos.
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