De ratoeiras e livros

Foto: André Kertész | Série On Reading
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Não gosto de parvoíces. Detesto ver gente se entregar a estupidez. Mas infelizmente é nisto que se dissolveu uma boa parte do público literário. Antes exigentes eles se tornaram, manipulados pelos médias, consumidores que respondem apenas às listas dos mais vendidos para determinar os seus próximos “melhores livros”. Um exemplo dessas patuscadas abunda nas prateleiras das livrarias, insinuando às donzelas os ritos de sadomasoquistas engravatados, coadjuvantes de Don Juan.

Minha aversão a todos esses destroços, intitulados de literários, se deve ao respeito que sinto dever a uma arte que é mais forte do que a própria realidade, porque é capaz, quando não está subordinada aos managers culturais, que reduzem a cultura a uma dimensão esvaziada de conteúdo, de impor-se nas consciências dos homens bem melhor do que qualquer panfleto político ou discurso filosófico.

Todavia, há quem pense que isto tudo é irrelevante. Basta, para muitos, um título figurar nas listas dos mais vendidas ou ser enfeixado por Hollywood em uma película, para aplacar as consciências de qualquer questionamento quanto as prováveis dúvidas sobre a qualidade estética de uma obra. O divertimento, o entretenimento, a linguagem simplificada, os discursos evasivos e superficiais, sobrepujou os critérios de criatividade, expressão e rigor literário nas qualificações de um livro. Em nome desses novos valores os leitores viram soterrados também qualquer possibilidade de uma arte questionadora e atenta ao mundo. A submissão do leitor as imposições dos gostos midiáticos é total.

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