Saiu de cena hoje um dos maiores nomes
do cinema mundial, o português Manoel de Oliveira (1908-2015). Filho de uma
tradicional família portuguesa Manoel de Oliveira nasceu no tempo da Monarquia.
Assistiu a mudança de rumos políticos de seu país para República, atravessou duas
guerras mundiais, sobreviveu a ditaduras sanguinolentas, saudou a redemocratização
de sua pátria e ainda testemunhou a queda do muro de Berlim. Depois de tudo
isso, quis o destino que ele ainda assistisse outros tantos dramáticos
conflitos que lhe afirmaram a permanência do mito bíblico da Torre Babel. Seu
nome está inscrito entre os grandes realizadores de nosso tempo. Ele não foi
apenas o mais importante cineasta de seu país, como afirmou a revista Cahiers du Cinéma, foi também, como
vimos, o mais longevo. A esse último adjetivo ele atribuiu parte de sua
admiração: "Penso que sou mais admirado pela minha idade do que pelos meus
filmes". Uma blague. Em seus mais de cem anos de vida ele fez da arte cinematográfica
a máquina relevadora de um mundo aquém daqueles que nossos sonhos projetam e
além daqueles que a realidade imprimem. Apenas esse registro desmente qualquer
insinuação de que sua longevidade tenha superado o seu talento atrás das
câmeras. Mas se ainda restar qualquer dúvida ao incauto veja-se a propósito Um
Filme Falado. Obra de 2003, nela está, em chave teatral, como era característica
de seu modo de realização, inscrito um filme que celebra os melhores feitos
humanos, sem esquecer as inconvenientes certezas de que há ainda, muito trabalho
para realização de uma sociedade minimamente civilizada. Vai o mestre fica a obra.
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