Foto: John Filo, 4 de maio de 1970. Jeffrey Miller, 20 anos, estudante,
morto pela Guarda Nacional Americana, durante um protesto contra a decisão de
Nixon de enviar tropas para o Camboja.
As fotografias têm muitas qualidades.
Elas podem ser belas, ternas e guardar a memória de momentos inesquecíveis.
Serão sempre felizes os álbuns de famílias, onde as pessoas parecem viver em eternos
festins. Noutro extremo, as fotografias, também estão dispostas a recordar à
humanidade a brutalidade e a selvageria que esse mesmo homo ludens é capaz de perpetrar, entre um banquete e outro com a
família.
Em Diante
da dor dos outros, Susan Sontag argumenta baseando em vastas evidências, que
vai desde “Os Desastres da Guerra”, de Goya, até aos documentos fotográficos da
Guerra Civil americana, dos linchamentos de negros nos estados americanos do
Sul, das Duas Grandes Guerras, da Guerra Civil espanhola, dos campos de extermínio
nazi e das imagens contemporâneas da Bósnia, Serra Leoa, Ruanda, Israel e
Palestina, bem como do 11 de Setembro de 2001 em Nova Iorque, que as imagens também
podem, provocar dissenções, incitar à violência ou criar indiferença ante um
público acrítico.
“As
imagens, qualquer que seja a sua natureza, são elementos importantíssimos para
o acompanhamento do processo histórico, assim como para a construção do
discurso histórico. No caso particular das guerras havidas, pinturas,
fotografias, imagens televisivas ou fitas resultantes de vídeos amadores, têm
sido contributos relevantes para o seu conhecimento, análise, interpretação e
reflexão. Mas em torno destas mesmas imagens, sobretudo as televisivas, algumas
questões se podem levantar, nomeadamente no que concerne à banalização do
sofrimento. À banalização do sofrimento dos outros, que poderá rapidamente
transformar-se na banalização do nosso próprio sofrimento.”
Com os médias excretando tanto horror,
as fotos das barbáries se potencializaram. Chegam-nos a todo instante imagens e
mais imagens de todo o mundo. Sabemos o que acontece todos os dias em todos os
lugares. No meio do jantar assistimos apáticos a execução brutal de seres
humanos em qualquer bar de alguma periferia no país. E antes que a comida
alcance o estômago, novas imagens de horror, rapidamente substituem as chacinas
pelas execuções de prisioneiros de guerra. Os modos de aniquilamento são tão
diversos quando as guloseimas dispostas na mesa do jantar.
A falta de pudor dos media e, em
especial, da televisão, recupera tempos ominosos, que julgávamos ultrapassados.
E na busca pela audiência eles não nos poupam da visão de horror e buscam os
ângulos mais nauseantes das piores carnificinas.
Tratar a dor alheia assim com tanta
indiferença, leva-nos a banalização da mal e como consequência anestesia a
nossa sensibilidade às necessidades do outro.
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