Foto: Rogério Soares Brito. Visita a Contendas, agosto de 2015
Para melhor dominar um povo,
escravizá-lo mesmo, há que sugar-lhe a memória, e, desse modo, eliminar-lhe a
identidade. Chamamos a isso desmemoriação.
Suas maiores vítimas, são os jovens. Seduzidos por um discurso fundado em
aparências e promessa de juventude eterna, ao preço de ilusões cosméticas pagos
a prestação, eles se deslumbram dia a dia com o novo, e viram as costas aos
mais velhos. Por conseguinte, enfraquecem a sua identidade e assumem postiças
formas de atuação no mundo. Interferir nesse aniquilamento das identidades é dever
de todos nós que pressentimos que há valores na nossa comunidade e que eles são
imprescindíveis.
Foi pensando nessa reação contra a desmemoriação e na valorização dum patrimônio
de saberes que enriquece a nossa identidade, que visitamos a comunidade
quilombola de Contendas, na última quarta-feira, com os alunos do colégio
Zelinda Carvalho e Nunila Ivo, todos pertencentes ao distrito Caetiteense de
Maniaçu. A visita foi uma iniciativa da professora Marili. No comboio estiveram
também presentes a vice-diretora Vânia David e o professor João Chaves.
Ouvindo atentamente as vozes do passado,
as crianças aprenderam que o sistema de vida que conhecem são distintos
daqueles que os precederam. Naquele a franca hospitalidade, os comeres, as
crenças, as festas, os costumes, as roupas, os gestos e tudo o mais, alicerçavam
um modo de vida, que hoje vai se esfumando nos sentimentos egoístas e
individualistas desse admirável mundo novo. Impostos por um sistema demolidor,
das memórias do tempo em que a vida tinha valor sentimental, e onde as
tradições falavam mais alto do que o poder corrosivo do vil metal, vivemos
transformações que não sabemos bem onde vão dar.
Em tempo, as crianças ainda puderam
perceber que é um equívoco negar a importância de nossos velhos. “Haverá sempre
lugar” escreveu Edson Carneiro, “para o eterno” explicando que o advento da luz
elétrica não aboliu o uso da vela, e nem se tornaram obsoletas as canoas e as
jangadas com o surgimento dos transatlânticos. Antes, essas novas invenções da
modernidade, trouxeram ao homem novas maneiras de seguir a vida sem, no entanto,
superar em definitivo as criações das tradições.
Assim como a vela nos socorre quando
todo o aparato moderno de iluminação falha, os velhos são nossas referências na
escuridão do mundo tecnológico e ultramoderno. Sem eles nos desorientamos. Sem
eles todo
um conjunto de manifestações e expressões de natureza intangível, que nos dar
norte e nos auxilia a desafiar o futuro, se arruínam, e comprometem a nossa
jornada pela vida.
Foto: Rogério Soares, Contendas, 2015
Foto: Rogério Soares, Seu Geraldo, Líder comunitário de Contendas-Caetité: Bahia
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