Internet e fotografia

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De tempos em tempos rola na internet uma foto que pelo número de curtida que recebe é considerado por alguns como a melhor fotografia de todos os tempos. Dia desses foi esta foto que ilustra o posto a maravilha que assombrava os amantes da “fotografia artística”. Sinceramente, não veja nada de excepcional nessa foto. Ela fica bem em propaganda de automóveis, mais que isto, é forçar, demasiadamente, as suas pretensas qualidades. Imaginar que ela figure como a "mais perfeita do mundo", é no mínimo, um exagero. Um grande exagero. Chamem-me de careta, obtuso, ranzinza, diga-me que estou velho e carrancudo, mas não posso aceitar que isso seja mesmo o melhor que podemos fazer em fotografia, seria um acinte a Paul Strand, William Klein e outros grandes mestres. Posso, porém, imaginar o que faz com que alguns vejam nessa foto algo extraordinário. Em tempos de selfies e das fotografias do prato que vamos comer ao almoço, exibindo-nos a todos como se a sociedade nos tivesse transformado em seres perturbados que retiram prazer de se exibir diante das multidões, alguma coisa que fuja a essa ordem é tido e havido como excepcional. Insisto, uma fotografia que tenha apenas como artifício de valoração a posição em que o expectador a vislumbra, não pode ser tomada como "a mais perfeita do mundo".  Tenho outros critérios para considerar que uma fotografia resultou bem. Um deles são o fato do fotógrafo retirar do plano contingente as coisas e alçá-las ao transcendente. Veja um pequeno exemplo do que digo com esse registo de Henry Cartier-Bresson. A banalidade do cotidiano foi aqui sacudida com a mirada precisa do fotógrafo. H.C.B transformou a arte fotográfica num território onde, como na literatura, só que de um modo ainda mais paradoxal, pensamento e sensação, ideias e imagens, inteligência e sensibilidade, conseguem uma bela e eloquente combinação para reflexão sobre a brevidade da vida e outros temas filosóficos.
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