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Ao ler esta tarde o blog do poeta Affonso Romano de Sant´anna, fico sabendo que este ano comemora-se o centenário da poetisa norte-americana Elizabeth Bishop. Nascida em Worcester em 11 de fevereiro de 1911, Elizabeth viveu e produziu parte de sua obra aqui no Brasil. Nesse período traduziu o melhor de nossa literatura para língua inglesa. Entre os seus poetas traduzidos está o pernambucano João Cabral de Melo Neto, que em seu livro Agrestes de 1985 - recém re-editado pela Alfaguara -, dedicou-lhe um poema intitulado SOBRE ELIZABETH BISHOP.
Quem falar como ela falou
levará a lente especial:
não agranda e nem diminui,
essa lente filtra o essencial*
(...)
João Cabral, como todos sabem, era avesso a poesia confessional, preferiu antes falar dos outros poetas e das coisas que habitavam a sua volta do que de si mesmo. Porém, num desses poemas homenagens ele deixou escapar uma dúvida: “Não haverá nesse pudor/ de falar-me uma confissão,/uma indireta confissão,/ pelo avesso, e sempre impudor?”. O artista inconfesso buscou no exemplo de outros poetas, num jogo metalingüístico, falar de sua própria impressão sobre a poesia. Toda via, não vejo nenhuma impudorada confissão nessas “linguagens alheias”. Esses exercícios metalingüísticos restringem-se ao oficio poético, e nem de longe assumem outra forma que deixe entrever outras faces desse poeta, se não a sua forma de ler e escrever poesia marcada pela rigidez e concisão absoluta.
*fonte do poema: Obra Completa de João Cabral de Melo Neto, ed. Nova Aguilar, p. 561.
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