A releitura de João Gomes de Sá vai além das
preocupações com a forma. Aliado à melhor tradição poética da literatura de
cordel, que tem em Leandro Gomes de Barros seu maior expoente, Gomes de Sá,
consegue recriar a atmosfera claustrofóbica e de emparedamento dos homens em
meio às exigências de um mundo insensível e cada vez mais desumano.
Que profissão cansativa
Remuneração ruim!
Eu vou pedir demissão
Senão será o meu fim!
Mas não faço esse pedido,
Pois tenho compreendido:
Todos dependem de mim!
(...)
É o desafio maior
Viver em sociedade,
Pois todos vivem somente
A individualidade,
Sobretudo quando o ter
Se sobrepõe sobre o ser
Assassinando a igualdade.
Digna de nota também é a insubmissão do autor Gomes
de Sá ao texto original. Com a convicção de quem sabe que nenhum texto adaptado
é inteiramente fiel à sua fonte, ele toma a liberdade de intervir na história,
dando a ela uma pitada de Nordeste ao que ela tem de árida e insólita. Vejam
como exemplo a estrofe em que o personagem Gregor Samsa, em um pequeno
vislumbre de liberdade, sai de sua angústia física da única maneira que lhe é
possível: pela imaginação.
Com cuidado especial,
Deixou a imaginação
Viajar por muitos mares,
Cidade e também sertão.
Comentou: — Não há imposto
Para impedir o meu gosto
De voar na ficção.
Essa releitura é obrigatória para todos os amantes
da boa literatura.
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