Resposta ao meu amigo Teo a respeito do caso Maria Bethânia
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Estou de acordo, meu caro amigo Teo, que o artista precisa receber o que merece. Por isso mais uma vez reafirmo minha posição em favor do projeto de Maria Bethânia e apoio a iniciativa que a meu ver pretende divulgar, incentivar e promover a literatura, num país em que nem todos têm acesso a esse bem.
Meu posicionamento contrário a maioria daqueles que criticam o projeto, decorre do fato de que nada é feito em prol da cultura desse país e pior, quando se estar em questão qualquer Projeto que viabilize uma mudança de curso nesse estado de inércia, e esse projeto envolva a literatura, a primeira preocupação - e muitas vezes única - não é estudar a proposta, sua importância cultural, muito menos sua relevância social. Daí minha discordância com aqueles que criticam esse projeto. Eles reduzem, creio, a discussão aos valores envolvidos na realização do blog. Não posso pensar de forma tão estreita.
A grande preocupação, como você pôde ver Teo, em muitos textos que criticam o projeto, resumi-se ao seu alto custo. O resto é o de menos. Tanto é assim, que ninguém teve a curiosidade, antes de tecer as mais grosseiras críticas, de ler projeto. Alguém ai o conhece, já leu, ou ao menos se preocupou em saber do que se trata de verdade?
Negar por negar é fácil, agora quem teve a curiosidade de se perguntar quanto custa a criação e manutenção de um site? Quais projetos estão envolvidos, além daqueles alardeados pela crítica? Qual a duração do projeto? Quantas pessoas estarão envolvidas na realização e produção do blog? Quanto de direitos autorais o projeto terá de pagar aos poetas, as editoras ou as famílias que detenham os direitos das inúmeras obras que serão usadas? Sim, porque diferentes do que possam imaginar muitos, os artistas precisam ser pagos pelos direitos de uso de seu trabalho. Essa última questão é de extrema relevância e mais uma vez vem a propósito a sua fala, “o artista precisa receber o que merece”. Nada mais justo então que receba!
Contestam-se os valores. Desprezam-se os meios para realização do projeto. Como se soluções para reverter o atraso cultural pudesse cair do céu ou fosse revolvidos com uma canetada como fez o governo Lula que diante do desafio de construir uma escola realmente eficiente para todos, e tentar assim resolver os problemas da desigualdade social, além da divida histórica com as comunidades negras desse país, acovardou-se e saiu pela tangente. Sem investir um único centavo na melhoria das escolas básicas o governo criou a ilusão de que tudo poderia ser resolvido com uma canetada. Assim nasceu as cotas que ignorando as carências básicas oriundas do sucateamento das escolas, obrigou as universidades a destinarem vagas àqueles que por razões mais do que apuradas por todos, não conseguiam, nas disputas caninas por uma vaga nas universidades, um lugar nas cadeiras universitárias. No entanto, o mesmo governo não poupou recursos na pretensão de comprar novos caças para substituir a velha frota do Exército Brasileiro.
Esse fato Teo dar a medida da importância que nosso governo atribui à educação. Por extensão, penso, que ele também ilustra muito bem como pensa a maioria de nossa gente, quanto está em jogo a melhoria da nossa cultura... ela é sempre cara.
Segundo pude apurar o projeto é de Hermano Vianna que convidou Maria Bethânia a se incorporar a ele pelo apelo que sua voz tem, junto ao público. No site de Bethânia ele justifica os custos da seguinte maneira: “Está no projeto: O áudio dos vídeos ficará disponível para ser baixado. O blog convidará músicos e DJs a produzirem conteúdo a partir desse material. Os melhores remixes (com vídeos e sons originais) serão publicados em seções específicas do blog. Videoartistas e animadores poderão ser convidados para transformar o poema do dia em base para novas obras. Uma ou duas vezes por mês, atores e outras pessoas poderão ser chamados para recitar alguns poemas. Também queremos criar novas ferramentas para as pessoas enviarem os vídeos umas para as outras, através de celulares. Cheguei a pesquisar a possibilidade de torpedos avisando para assinantes o momento da publicação de vídeos de seus poetas preferidos, mas mesmo só isso logo revelou custos proibitivos de transmissão de dados. Estamos ainda quebrando a cabeça para saber como resolver essas questões técnicas.” Por essas razões não me parecem serem injustificáveis os valores, até aqui usados como justificativas para desqualificar o projeto. Não podemos ignorar que um projeto como esse tem custos.
Não posso deixar de duvidar que um sentimento arraigado de desprezo pela literatura seja ai um componente a mais da rejeição do projeto. Inconscientemente, muitos ainda têm a literatura como um acessório dispensável. As razões dessas ideias? A sociologia ou a história da nossa formação explicariam melhores do que eu.
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