Téo Júnior [*]
Enfim,
depois de muita publicidade e expectativa idem, estreou no Teatro Atheneu o
espetáculo “O Anjo Safado”, que permaneceu em cartaz no último final de semana.
Apresentação bonita, com muita dança, música e bastante sugestiva.
A
dualidade entre céu x inferno, pureza da alma x prazeres mundanos, quer dizer:
o indivíduo em conflito consigo mesmo, que tanto intrigou (e fascinou) os
homens no período medieval, veio à baila na peça - fascínio que teve em Gil
Vicente uma dimensão maior.
Ressalte-se
que, uma vez no terreno metafísico, os conceitos e aquelas normas de conduta
que recebemos ao longo da vida vão sendo subvertidos por uma lógica distinta. Quando
algum personagem se insere no universo pós-vida, na ótica cristã, as regras do
jogo agora são outras.
O
texto de Paulo Lobo é simples e direto. A maior vantagem dele foi estar isento de
abordagens filosóficas complexas e que, no fim das contas, não sugere nada ou
muito pouco. Teatro bom é assim: diz o que precisa ser dito de maneira
econômica e eficaz. A direção de Jorge
Lins compreendeu a ideia do texto.
Guardei
a sátira que foi feita em relação aos bispos gananciosos e hipócritas, e
acredito que a crítica seja muito pertinente, uma vez que hoje a televisão
brasileira está demasiadamente contaminada com uma leva de “pastores” picaretas
e aproveitadores, alguns inclusive não resistindo à tentação de exibir
horrendas sessões de exorcismo. Lobos disfarçados de cordeiros.
A
cena onde a entrevistadora melindrosa Lais Bizarra (Eduardo Vieira) conversa
com o chefe do inferno (o excelente Leandro Handel) foi impagável.
Duas
vezes, foram exibidas cenas de orgia sexual com 15 participantes. Pura
devassidão, que deixaria um pastor horrorizado.
E
assim, de gargalhada em gargalhada, as verdades - algumas inconvenientes - vão
sendo ditas uma por uma, e o teatro acaba se tornando uma espécie de espelho,
onde o público tem a oportunidade de se enxergar e de refletir, como acreditava
Molière.
Iluminação
adequada, cujo palco ficou grande parte do tempo em penumbra, talvez para
realçar o aspecto extraterreno do atormentado personagem José. Som e figurinos
bons.
Antônio
Leite, o protagonista, sozinho, já é um teatro. Teve um desempenho seguro e
feliz. Trata-se de alguém que possui uma grande relação de afeto com o palco.
Um ator experimentado e competente.
Toda
essa discussão coube no espaço de 1 hora.
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Crítico de teatro e colaborador do ETC’.
Contato: teo.camp@hotmail.com
Um comentário:
Sabe Téo, quando o texto nos instiga e mexe com os pensamentos e ao mesmo tempo nos deixa sem palavras e fica a garganta seca e a mente sedenta por mais e mais informação? É assim que me sinto ao ler Navegantes: Sem comentários. Abraços.
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