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Muitos já devem ter
percebido isso. As pessoas que gostam de animais costumam atribuir certas qualidades
morais àqueles que como elas admiram os bichinhos. Entre outras qualidades elas
são, segundo os critérios cabalísticos: amáveis, confiáveis e solidárias
incontestes. A mesma sorte, no entanto, não têm os que por qualquer razão não
se sentem confortáveis com os peludos.
Como se os animais não
passassem de animais, mas seres superiores, capazes de revelar dotes ou
transparecer faltas nos homens, os muitos admiradores dos gatinhos ou dos cãezinhos,
desconfiam sempre dos que guardam reserva aos bichinhos. Ao menos é isso que
ouço dos amigos que têm animais. Não lhes parecem estranho, atribuir aos cães o
julgamento moral de uma pessoa.
Como não sou daqueles
que se atraem pelos cães, nem por qualquer outro bicho, foram sem conta, o
número de vezes em que, constrangido, não soube esconder dos donos de animais,
o meu desconforto com a presença dos animaizinhos queridos. Ao revelar esse sentimento
não pude deixar de perceber que tinha, para os amantes dos animais, acabado de cometer
uma imperdoável heresia.
Apenas por estar em
desacordo com seus sentimentos fofos, sentia que a revelação de meu desapego aos
bichos, acabava por lhes acender um desapontamento profundo que os faziam,
desde então, olhar-me de esguelha.
Penso que não tenho que
amar um animal e o manter encarcerado em minha casa só para provar que tenho
sentimentos e posso ser uma pessoa confiável. Esse é um modo estranho de julgar
alguém. Há, por certo, outros critérios que fazem de alguém uma pessoa amável,
solidária e confiável. Não precisamos, ao contrário do que pensam os amantes
dos bichos, consultar os latidos dos cães. O senhor na foto acima não me deixa mentir.
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