Duas noites insone. Dores no peito e nas
costas. Tosse incessante. Uma chapa do pulmão (adoro essa palavra, chapa, me
lembra o vocabulário de minha vó) e o diagnóstico: um princípio de pneumonia.
De repente, me pego pensando o quanto somos vulneráveis. Parecemos um castelo
de areia, feito por um deus-criança, que brinca na praia e depois se vai,
deixando para trás o brinquedo, que o distraiu por umas horas, ao sabor das
intempéries. Se não for as perturbações atmosféricas a nos levar, será talvez a
negligência de alguns. Dos três medicamentos receitados pelo médico, que me
atendeu, um deles está fora de circulação há pelo menos três anos,
garantiram-me os farmacêuticos de Caetité. Uma olhada no carimbo do doutor e
fico a saber, que ele também é professor. Ai encontro a resposta para tamanha
desatualização. Os nossos professores, com raríssimas exceções, não se
preocupam em se atualizarem. Conheço um que se orgulha de não ter lido um único
livro, depois que saiu da faculdade. Outro que fez um curso, apenas para
acrescer mais um 0 ao seu contracheque, sem prestar o menor zelo ao que estava
estudando. O professor que não ler ou que não estuda, continuamente, é
semelhante ao médico que receita ao paciente um remédio que não existe.
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