Numa música antiga do Caetano Veloso tem um pedaço
assim: “Navegar é preciso. Viver não é preciso”.
Todos adoravam. Era um refrão. E não era dele.
Ele teve várias chances de esclarecer a autoria, mas
não se manifestou. Deveria. Era a parte mais bonita da letra, e canto não tem
aspas.
Mais tarde um intelectual informou ao País: o
verdadeiro autor era Fernando Pessoa.
Intelectual meia-boca: a frase é do general Pompeu,
inimigo de Júlio Cézar. Foi dita numa carta, em 70 A.C.
Por muito tempo eu não entendia esse pedaço:
“Navegar é preciso. Viver não é preciso”.
Como assim, “Viver não é preciso?"
Só depois dos 30 entendi. Li em algum lugar: o
“preciso” tinha o sentido de “exatidão”.
Os navegadores, já naquele tempo, tinham meios de
orientação. Sempre sabia onde estavam.
"Navegar é exato. Viver não é exato". É
isso aí.
(Carlos Antônio Jordão - 03 - 10 - 2015)
Há dias li estas notas e desde então
venho pensando no plágio como uma ferramenta criativa. A culpa dessa
inquietação também se deve a uma conversa com Iamara Junqueira. A tomada de
empréstimo de ideias alheias Iamara, não pode está reduzida aos sentidos
baratos que lhe atribuímos. Estou certo que uma apropriação indevida pode
maquiar uma deficiência, daquele que se vale do outro, como uma muleta às suas
limitações. Porém, há mais possibilidades nas apropriações, como sugere o texto
do Carlos Antonio Jordão. Um bom exemplo dessas apropriações que renovam o
estilo e arejam as artes, podemos apanhar em Picasso, que expressou em uma
frase o estilo que o notabilizou: "Bons artistas copiam, grandes artistas
roubam”.
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