Foto: Pedro de Moraes: Rio de Janeiro, 1965.
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Questiono-me, o que pode haver de amoral
ou de descente, nos trajes que alguém escolhe para vestir? Faço isso, porque,
meio sem querer, testemunhei a indignação de uma distinta senhora que, ao ver
passar a rua, uma jovem em trajes mínimos, sagrou-a puta, só de ver a roupa que
a jovem vestia.
A visão micro, daquilo que a moral achou
dever ser maior, causou-lhe, indignação instantânea. Tanta que, não pode conter
a boca, o que o juízo avaliou em um só olhar. Achou tão certo, o que sua cabeça
em instantes julgou, que sem receios ou pudor fez de uma jovem, alguém que talvez
passe ao largo de ser o que os olhos apresados pensam saber.
Nossa sociedade, muito zelosa de nossos hábitos
e costumes, manda-nos sermos obedientes às práticas que nos fazem imaginar
distintos e nobres, por andarmos envergando os símbolos da decência. Quanta
ilusão. Fazem isso, estimulando-nos o comedimento nos trajes, a discrição nos
volumes e a sensatez nas medidas.
Sabem desses conselhos, os
frequentadores das igrejas, os capelistas e os modistas dos hábitos alheios.
Quem não frequenta esses sítios, têm dificuldade em aceita-los, preferem outros
modos.
Que medidas de roupas, determinam o caráter
de alguém, pensam os que andam ensacados. Mas quando se estar debaixo de um sol
fuzilante, e o calor incomoda, creio ser natural que as roupas, assim como a
moral e os bons costumes andem meios frouxos ou curtos, além do que gostariam
os guardiões dos melhores costumes. É demais querer que andemos todos metidos
em panos, quando o sol está a nos convidar a celebrar os corpos livres.
Com tantos desavergonhados na política,
na religião, no comércio, nas casas de famílias, indignar-se com o pouco pano
de uma roupa, soa-me a banalização dos fatos que, importam indignar-se. Do que
adianta, cobrir-nos a todos o corpo, quando a vergonha maior não está em andar
com partes generosas dele à mostra?
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