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A imagem que ilustra este post é do personagem Terry
Malloy, interpretado pelo ator Marlon Brando no filme Sindicado de Ladrões. Realizado em 1954 ele foi dirigido por Elia
Kazan. Por essa interpretação Marlon Brando ganhou o seu primeiro Oscar de
melhor ator. Em 1972, quase vinte anos depois, ele foi indicado, e ganhou mais
uma vez, também como melhor ator, dessa vez pelo papel de Don Corleone no filme,
O Poderoso Chefão, do diretor Francis
Ford Coppola.
Na cerimônia de entrega do prêmio, Marlon Brando
protagonizou uma cena digna da sétima arte. Ele fez o que na época, e ainda
hoje, pode ser considerado por muitos como uma heresia; recusou a honraria da
Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood e não compareceu
para receber o prêmio. Quando seu nome foi anunciado, surgiu no meio da
platéia, entre os olhares atônitos de Roger Moore e Liv Ullmann, atores
escalados para recepcionar o homenageado, uma representante do ator, sua amiga
Sacheen Little Feather, que, entre as vaias e os aplausos dos presentes,
improvisou um discurso em defesa dos índios americanos.
Mais tarde Marlon Brando disse que sua intenção, ao
declinar do prêmio, era constranger, “uma
indústria que tinha sistematicamente deturpado e denegrido a imagem dos índios
durante seis décadas”. Cansado das frivolidades de Hollywood enquanto o
mundo ardia em chamas na guerra do Vietnam, e os nativos americanos eram
caçados como nos tempos do velho West, Brando relutava em aceitar a ideia de
que um terço da humanidade estivesse parado assistindo aquela celebração fútil,
enquanto tudo isso estava acontecendo sem o menor constrangimento de ninguém.
Ele não poderia ter escolhido melhor vitrine para chamar a atenção do mundo sobre
essas causas. A audiência da cerimônia do Oscar, na época, foi estimada em mais
de 1 bilhão de pessoas. Hoje ultrapassa os três bi.
Em sua autobiografia ele escreveu que considerava já
algum tempo desadequado premiar artistas pelo seu trabalho. Os Oscar da
Academia e o alvoroço que se cria à sua volta elevam segundo Brando, o trabalho
do ator a um nível imerecido. “Com a
quantidade de problemas graves existentes no mundo, torna-se absurdo que um
fato tão inconsequente assuma tais proporções... Conheço pessoas que com seis
meses de antecedência começam a pensar como irão vestidas à cerimônia e se
tiverem alguma hipótese de serem nomeadas começam a memorizar o discurso de
aceitação. E, se ganham, fingem então que as suas palavras são espontâneas, mas
a verdade é que foram ensaiadas desde há muitos meses”.
Definitivamente Marlon Brando não era uma pessoa razoável,
hesitante ou comedida com as palavras, como exigem a carneirada. A severidade
com a qual ele encarou o seu tempo diz muito desse homem que não tolerava
facilmente os holofotes, que alguns insistem em manterem sempre apontados pra
si. Ao rejeita o prêmio que muitos cobiçam Brando investia contra as farsas que
encobrem o mundo das celebridades e também contra uma sociedade que tem como único
desejo na vida sair do anonimato direto para o estrelado.
A
cerimônia do Oscar tem origem, escreveu Marlon
Brando, na obsessão de Hollywood em
autopromover-se; as pessoas do meio sentem uma verdadeira paixão em prestar
tributo uns aos outros... isso tranqüiliza-os acerca do seu valor,
especialmente depois de terem crescido no seio de uma cultura onde impera a
culpa e uma forte pressão pra cada um se evidenciar. Creio que Marlon
Brando foi o último de uma casta de grandes atores que não fazia arte esperando
apenas os aplausos públicos.
Um comentário:
Assisti, domingo, Viva Zapata, do mesmo Kazan, com o mesmo Brando. A notar, também, a biografia controversa de Kazan, excepcional realizador, envolvido na teia do macarthismo e proscrito da sétima arte, que não seria a esma sem ele.
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