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Lá, a política é a do quem paga mais
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Por TÉO JÚNIOR
O site iGuanambi, é, provavelmente, a mídia
eletrônica mais visitada da microrregião, porque divulga notícias tanto do
âmbito local como nacional (algumas delas reproduções de outras fontes), publica
festas fúteis, cerimônia de 15 anos de gente que, desprovida de fama e de
talento, paga para aparecer (hello
Val Merchiori!), faz cobertura completa do show de Daniel, artista medíocre etc.
Há também um espaço, digamos, interativo, onde se leem recados para o dono da farmácia,
publica-se os aniversariantes do dia, desabafos, críticas, sugestões etc. Eu
sempre suspeitei dessa mídia de interior no sentido em que, recebendo dinheiro
de algum patrocinador ou de algum político influente, vete, sistematicamente, aquilo
que vai contra seus interesses, ainda que as informações sejam corretas. Onde o
dinheiro fala mais alto, não se pode esperar independência nem credibilidade
porque, destarte, a verdade morre na praia, quando ela desabona que pode amordaçá-la.
Estando em férias em Caetité – a mídia daqui deve ir pelo mesmo caminho (se o iGuanambi faz, por que as demais não poderiam?) – paguei 20 reais para assistir ao espetáculo Baianidade Baiana, e essa apresentação gerou uma crítica (dessas honestas e sinceras) que, uma vez ou outra, alguém se disponibiliza a fazer: eu. Escrever é um trabalho, não um mero passatempo. O mais surpreendente é que o site vetou o texto, argumentando que o mesmo feriria um acordo feito entre ele e os produtores, que não aceitam críticas justas em relação ao evento. Porém, devo lembrá-los que teatro é prestação de serviço, portanto sujeito a críticas e a elogios, a depender da competência de quem o faz.
Um trecho de minha análise diz exatamente assim: a crítica se faz fundamental, pois entendemos que o papel dela não pode ser o da complacência ou o da subserviência em relação ao elenco, como normalmente acontece nas divulgações feitas pela mídia, sem critério algum. O site vestiu a carapuça e deve ter levado um baque – pois é exatamente isso o que ele faz. Acertei.
Se o iGuanambi recusasse a publicação com uma justificativa razoável, alegando, por exemplo, que o texto estivesse mal escrito, ou despropositado, eu nem ficaria triste. Sinceramente, não. Iria refazer o trabalho, e, auxiliado por alguma pessoa mais capacitada do que eu, analisaria as possíveis falhas. iGuanambi não aceitou o texto porque (a fonte é quente) produtores do espetáculo pagaram ao site, ou seja, um contrato foi assinado no intuito de se divulgar o evento. Havendo esse consórcio, o site então não autorizou a publicação da crítica, porque iGuanambi considerou que ela “fere” sensibilidades, havendo, assim, uma “quebra” de acordo.
Nesse exercício salutar de publicar ensaios e crônicas sobre teatro, a arte que mais admiro, tenho muito orgulho de 1) brigar pelos meus textos; 2) nunca, em hipótese alguma, vender nem comprar espaço para divulgar meu nome, porque não preciso disso. Sei de meu valor; 3) prossigo na batalha incansável de ver o maior número possível de espetáculos, de escrever, mesmo enfrentando portas fechadas, que poderiam, voluntariamente, acolhê-lo.
O blog Navegantes ao Mar publicou com carinho a crítica – porque ele é livre. Não seria o caso de o iGuanambi ficar orgulhoso porque alguém escreveu a respeito de um evento patrocinado por ele mesmo? As pessoas que eventualmente visitam o site conhecem essa política do toma-lá-dá-cá?
Pode parecer que eu esteja ressentido porque meu texto foi solenemente recusado. Não é verdade. Leiam e esqueçam-se de que foi escrito por mim. Analisem a mensagem, e não o mensageiro. E vá ao site iGuanambi e compare os textos que estão lá. Enquanto essa mídia que está aí exercer esse tipo de papel, ela será de pouquíssima utilidade pública, sem qualquer razão para existir. O material vetado enobreceria o site, tão carente de conteúdo, independentemente de ter sido feito por mim ou por qualquer outro.
Determinadas pessoas detêm o poder: umas, o de pagar pelo que lhe for mais conveniente. Outras, o poder de gerir o dinheiro recebido. Uns, de subornar. Outros, de vender-se. Nós, em nossa humildade, temos também o nosso poder: o de pensar, o de raciocinar por conta própria. O poder de termos nossa consciência e usá-la, para chancelar nossa profissão. Temos o poder da palavra – isso ninguém poderá amordaçar.
O dramaturgo Federico García Lorca, o maior da Espanha, que fora assassinado pela ditadura Franco em 1936, ainda teve de ouvir um ultimato que se revelou profético: seu carrasco, ao disparar um tiro em sua nuca, teria dito: “Uma caneta na mão deste homem é mais poderosa que uma arma!”
Nunca me esqueço da maneira como Odorico Paraguaçu, o prefeito malandro de Sucupira, tratou a mídia que lhe fazia acusações: classificou-a de “marronzista”. Acontece que ele também criou um jornal, a Folha de Sucupira. Essa, sim, era a “imparcial”. Essa retórica humorística e maravilhosa se encontra no livro Odorico na Cabeça (edit. Círculo do Livro, 1983) do excepcional Dias Gomes. Até quando iremos inverter os valores?
Parece insignificante, a recusa de um texto comum. Não é. Atrás dela, existe uma política, um mercado, um establishment; daí verifica-se, sem dificuldade, como as coisas caminham. Se algo na sua aparência desprovido de valor (uma apreciação crítica) fora recusado, é de se supor que textos ainda mais complexos, mais profundos, de uma envergadura ainda maior terão o mesmo destino. “Até hoje não germinou instituição mais nociva do que o dinheiro” – nos diz Creonte, o tirano de Antígona. É triste.
"FOLHA DE SUCUPIRA"
O prefeito Odorico Paraguaçu (Paulo Gracindo), em "O Bem-Amado", que criou um jornal para elogiar a si mesmo. Quando um poder faz as pazes com a mídia, alguma coisa está errada.
Estando em férias em Caetité – a mídia daqui deve ir pelo mesmo caminho (se o iGuanambi faz, por que as demais não poderiam?) – paguei 20 reais para assistir ao espetáculo Baianidade Baiana, e essa apresentação gerou uma crítica (dessas honestas e sinceras) que, uma vez ou outra, alguém se disponibiliza a fazer: eu. Escrever é um trabalho, não um mero passatempo. O mais surpreendente é que o site vetou o texto, argumentando que o mesmo feriria um acordo feito entre ele e os produtores, que não aceitam críticas justas em relação ao evento. Porém, devo lembrá-los que teatro é prestação de serviço, portanto sujeito a críticas e a elogios, a depender da competência de quem o faz.
Um trecho de minha análise diz exatamente assim: a crítica se faz fundamental, pois entendemos que o papel dela não pode ser o da complacência ou o da subserviência em relação ao elenco, como normalmente acontece nas divulgações feitas pela mídia, sem critério algum. O site vestiu a carapuça e deve ter levado um baque – pois é exatamente isso o que ele faz. Acertei.
Se o iGuanambi recusasse a publicação com uma justificativa razoável, alegando, por exemplo, que o texto estivesse mal escrito, ou despropositado, eu nem ficaria triste. Sinceramente, não. Iria refazer o trabalho, e, auxiliado por alguma pessoa mais capacitada do que eu, analisaria as possíveis falhas. iGuanambi não aceitou o texto porque (a fonte é quente) produtores do espetáculo pagaram ao site, ou seja, um contrato foi assinado no intuito de se divulgar o evento. Havendo esse consórcio, o site então não autorizou a publicação da crítica, porque iGuanambi considerou que ela “fere” sensibilidades, havendo, assim, uma “quebra” de acordo.
Nesse exercício salutar de publicar ensaios e crônicas sobre teatro, a arte que mais admiro, tenho muito orgulho de 1) brigar pelos meus textos; 2) nunca, em hipótese alguma, vender nem comprar espaço para divulgar meu nome, porque não preciso disso. Sei de meu valor; 3) prossigo na batalha incansável de ver o maior número possível de espetáculos, de escrever, mesmo enfrentando portas fechadas, que poderiam, voluntariamente, acolhê-lo.
O blog Navegantes ao Mar publicou com carinho a crítica – porque ele é livre. Não seria o caso de o iGuanambi ficar orgulhoso porque alguém escreveu a respeito de um evento patrocinado por ele mesmo? As pessoas que eventualmente visitam o site conhecem essa política do toma-lá-dá-cá?
Pode parecer que eu esteja ressentido porque meu texto foi solenemente recusado. Não é verdade. Leiam e esqueçam-se de que foi escrito por mim. Analisem a mensagem, e não o mensageiro. E vá ao site iGuanambi e compare os textos que estão lá. Enquanto essa mídia que está aí exercer esse tipo de papel, ela será de pouquíssima utilidade pública, sem qualquer razão para existir. O material vetado enobreceria o site, tão carente de conteúdo, independentemente de ter sido feito por mim ou por qualquer outro.
Determinadas pessoas detêm o poder: umas, o de pagar pelo que lhe for mais conveniente. Outras, o poder de gerir o dinheiro recebido. Uns, de subornar. Outros, de vender-se. Nós, em nossa humildade, temos também o nosso poder: o de pensar, o de raciocinar por conta própria. O poder de termos nossa consciência e usá-la, para chancelar nossa profissão. Temos o poder da palavra – isso ninguém poderá amordaçar.
O dramaturgo Federico García Lorca, o maior da Espanha, que fora assassinado pela ditadura Franco em 1936, ainda teve de ouvir um ultimato que se revelou profético: seu carrasco, ao disparar um tiro em sua nuca, teria dito: “Uma caneta na mão deste homem é mais poderosa que uma arma!”
Nunca me esqueço da maneira como Odorico Paraguaçu, o prefeito malandro de Sucupira, tratou a mídia que lhe fazia acusações: classificou-a de “marronzista”. Acontece que ele também criou um jornal, a Folha de Sucupira. Essa, sim, era a “imparcial”. Essa retórica humorística e maravilhosa se encontra no livro Odorico na Cabeça (edit. Círculo do Livro, 1983) do excepcional Dias Gomes. Até quando iremos inverter os valores?
Parece insignificante, a recusa de um texto comum. Não é. Atrás dela, existe uma política, um mercado, um establishment; daí verifica-se, sem dificuldade, como as coisas caminham. Se algo na sua aparência desprovido de valor (uma apreciação crítica) fora recusado, é de se supor que textos ainda mais complexos, mais profundos, de uma envergadura ainda maior terão o mesmo destino. “Até hoje não germinou instituição mais nociva do que o dinheiro” – nos diz Creonte, o tirano de Antígona. É triste.
"FOLHA DE SUCUPIRA"
O prefeito Odorico Paraguaçu (Paulo Gracindo), em "O Bem-Amado", que criou um jornal para elogiar a si mesmo. Quando um poder faz as pazes com a mídia, alguma coisa está errada.
3 comentários:
Olá professor!
Parabéns pelo blog.
Passei rapidinho, só pra registrar presença.
Vai ser um grande prazer beber dessa fonte riquíssima de informações.
Boa noite
Texto simplesmente rancoroso e leviano. Sem mais.
Bom dia ! esse Roney torres deve ser um dos beneficiarios da imprensa marron.
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