“Em nossos livros de
leitura havia a parábola de um velho que no momento da morte revela a seus
filhos a existência de um tesouro enterrado em seus vinhedos. Os filhos cavam,
mas não descobrem qualquer vestígio do tesouro. Com a chegada do outono, as
vinhas produzem mais que qualquer outra na região. Só então compreenderam que o
pai lhes havia transmitido uma certa experiência: a felicidade não está no
ouro, mas no trabalho. Tais experiências nos foram transmitidas, de modo
benevolente ou ameaçador, à medida que crescíamos: “Ele é muito jovem, em breve
poderá compreender”. Ou: “Um dia ainda compreenderá”. Sabia-se exatamente o
significado da experiência: ela sempre fora comunicada aos jovens. De forma
concisa, com a autoridade da velhice, em provérbios; de forma prolixa, com a
sua loquacidade, em histórias; muitas vezes como narrativas de países
longínquos, diante da lareira, contadas a pais e netos. Que foi feito de tudo
isso? Quem encontra ainda pessoas que saibam contar histórias como elas devem
ser contadas? Que moribundos dizem hoje palavras tão duráveis que possam ser
transmitidas como um anel, de geração em geração? Quem é ajudado, hoje, por um
provérbio oportuno? Quem tentará, sequer, lidar com a juventude invocando sua
experiência?”
Walter Benjamin –
Experiência e Pobreza – 1933
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