Roberto Bolaño e a nova literatura latino-americana

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Na década de sessenta a literatura latino-americana, em todos os seus quadrantes, viveu um período de grande produção literária e súbito reconhecimento internacional, tanto da crítica especialização como do público. 

Foram importantes para esse reconhecimento nomes com do argentino Julio Cortázar, do colombiano Gabriel Garcia Marques, esse último ganhador do prêmio Nobel de Literatura em 1989; os mexicanos Carlos Fuentes, Juan Rulfo e Octávio Paz também premiado como o Nobel, além do peruano Mario Vargas Llosa - Nobel de 2011 - e de alguns outros. 

Também nessa mesma década, figuras da envergadura do argentino Jorge Luis Borges e do cubano Alejo Carpentier, gênios do realismo fantástico e do realismo mágico, respectivamente, voltam a serem alvos do interesse público e completam e cenário de mestres que emolduraram para sempre, um quadro da literatura latina, que nunca mais saiu de exposição. 

Foi durante esse período ainda que a América Latina tornou-se pela primeira vez em sua história uma exportadora de produtos culturais, em uma inversão radical dos pólos de produção artística que dominava o mundo. O ponto alto dessa reviravolta culminou com a outorga do Prêmio Nobel de Literatura ao guatemalteco Miguel Angel Astúrias em 1967. 

Grosso modo, o que caracterizava a literatura desses autores, escusadas as muitas discussões sobre o assunto, quase nunca resolvido, são: o gosto pela experimentação formal, e um apurado senso crítico de suas origens históricas. Para isso, eles revisaram técnicas provenientes do Surrealismo e da literatura estadunidense do século XX, especialmente a do escritor William Faulkner. Influências que desaguaram no chamado realismo mágico e na literatura fantástica. 

Tão súbito quanto o surgimento daqueles notáveis escritores para literatura latino-americana, foi o desaparecimento precoce, nos anos seguintes, do interesse do público pelos novos autores que sucederam aqueles precursores. 



Todavia, esse hiato de paixões, entre público e autor, que durou uns bons anos, parece ter sido inteiramente interrompido com o surgimento no apagar das luzes do século XX, do escritor chileno Roberto Bolaño. 

Abdicando do projeto revisionista da história latina, Bolaño parte em suas obras (formada basicamente por poemas, contos e romances) pelas trilhas abertas pelo argentino Jorge Luis Borges, para quem a literatura, se confundia com um labirinto, cheia de possibilidades formais e temáticas. Seu universo é povoado por escritores, viajantes e aventureiros urbanos, sempre em busca de alguma coisa. Nessa viagem ele nos leva rumo a histórias em que putas assassinas, detetives selvagens e nazis, além de escritores, professores, baderneiros e outros, se confundem a turba simiesca que povoa a fauna; que alguns insistem em chamarem de vida contemporânea.

Bolaño foi autor de uma obra consagrada dentro e fora do mundo latino. Sozinho ele resgatou o interesse do público pelos novos talentos latino-americanos, revigorando assim uma tradição que ainda tem muita tinta para gastar. Infelizmente ele não poderá mais gastar essas tintas. Sua obra teve um ponto final em 2003 quando ele foi vencido pela pancreatite.

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