Dalton Trevisan

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Você manda dizer que não tem decisão sobre o meu caso, quer dizer que está perdido, eu não quero saber, quero o dinheiro na minha mão seja como for, 19 anos que vivo nesta ilusão, cheia de esperança e no fim tudo perdido, por tua causa que nunca se interessou no meu caso, tem que dar conta do dinheiro, na minha mão eu quero os cem contos sem falta, esperava esse dinheiro para o fim de minha vida, minha velhice, ando muito doente, sem poder me tratar, você pensa que me deixa na miséria depois de tanta esperança, dando risada depois que desfrutou a minha beleza, não pense que fica assim, você é responsável pela minha perdição, há muito devia ter resolvido meu caso, você me abandonou e nunca ligou, só interessado em se aproveitar de mim, eu era donzela quando me desencaminhou, trate de dar um jeito no corpo, quero meus cem contos, esperando de braços abertos e depois de 20 anos não tenho mais direito, é isso que você pensa? eu quero o dinheiro da pensão, você me responda sem falta, senão vou aí na tua casa, envergonhando você na frente da tua família, nunca ligou para a minha pensão, se fosse para a cadela que já foi para os quintos você tinha se mexido, olhe que eu não estou brincando, eu só quero o que é meu, depois de 19 anos você não me larga na miséria, velha, doente, e fica se regalando, ganhando bem, e me deixa arruinada, quero o que prometeu a tua palavra de amante, meus cem contos, já não me incomodo com os juros, é favor responder esta cartinha, senão eu vou aí e será pior pra você, arranco os cem contos ou o teu coração com as unhas, sem mais aceite um beijo da sempre tua

Cidinha


Dalton Trevisan é um dos mais importantes escritores
do Brasil. Nasceu em 1925 em Curitiba.
Extraído do livro Mistérios de Curitiba.
(Edit. Record, 1996).

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