.
Chega a notícia - desastrosa, a meu ver - que algumas escolas americanas querem substituir (isto é, censurar) certos trechos do magnífico legado de William Shakespeare, o mais admirado, estudado e enaltecido dramaturgo que já apareceu. Barbara Heliodora, crítica de teatro desde 1958 e atualmente no jornal O Globo dedicou toda sua vida para desbravar a gigantesca criação shakesperiana. Estudou-o mais do que qualquer outro intelectual no país. Fala dele com absoluta paixão e independência, pois sabe que Shakespeare é eterno. "O que não estiver na Bíblia está em Shakespeare", disse ela ao falecido dramaturgo Mauro Rasi.
Qualque espécie de censura soa como sendo uma maneira melindrosa e, pior, errática de impedir que determinadas verdades venham à baila, porque nem todas as verdades - como diz meu pai - podem ser ditas. Entretanto, a literatura é o campo (quiçá o único) que está numa posição privilegiada de se dizer tudo, sem meios-termos. A literatura tenta através do talento de certos homens e mulheres reprodizir, questionar, condenar os próprios indivíduos que pertencem a uma época e a uma sociedade. É como se o livro funcionasse como um "espelho público", onde nos enxergássemos continuamente, como dizia Molière.
Nada nos ensina mais do que os absurdos ocorridos nos períodos ditatoriais que tivemos, com mais violência o de 64, cuja canga fomos obrigados a suportar durante 21 anos. Jornalistas que de uma hora para a outra "suicidavam-se", teatros incendiados, atores boicotados na véspera dos espetáculos, sem aviso prévio da Censura Oficial, escritores presos e suas obras impedidas de circular (caso de Feliz Ano Novo, de Rubem Fonseca, de 1975 - tachado de "pornográfico"), para não falarmos da odiosa tortura.
A ditadura, pelo menos no Brasil, passou. A Censura (aparentemente) passou. Permaneceu a obra.
A Censura Oficial, ou seja ela qual for, quer-me parecer, ao vetar uma obra artística de chegar até o povo, julga estar "educando" este mesmo povo, coitado, tão fraco intelectualmente, tão inepto, que necessita de intérpretes que escolham por ele o que lhe é nocivo ou benéfico. Estranha, entretando, que em pleno ano de 2012 com a internet livre e os variados meios que oferecem sexo, violência a qualquer momento, que a sociedade americana - tão avançada e evoluída - tenha esse tipo de postura. É um retrocesso de quem acredita estar auxiliando uma sociedade, focalizada exatamente em sua raiz, ou seja, nos alunos, nos jovens estudantes, suprimindo-lhes obras essencialmente literárias, e o que é ainda pior: obras já consagradas, já canonizadas. Creio que num futuro próximo, esses adultos não gostarão de saber que um dia foram trapaceados pela educação que seus pais sustentaram, mediante pagamento de impostos.
Subliminarmente ou de maneira mais explícita, o sexo sempre esteve presente em tudo. Se se for suprimir uma obra porque ela focaliza o sexo, ou a violência, ou o crime, não fica um disco, um filme, um livro de pé. Num belo dia de 1958, após o espetáculo Os 7 Gatinhos, Nelson Rodrigues pediu a palavra e foi "explicar" sua peça à plateia (adulta) que a detestara e começara a gritar palavras de ordem. Precisava? Houve quem quisesse chamar a polícia. Será que esse público que pagou ingresso, não tinha condições - por si só - de refletir, de analisar as - vá lá - monstruosidades apresentadas? E a respeito da "intenção literária" do autor, será que alguém percebeu?
Mas do que a mera referência ao sexo, ou aos órgãos genitais, era extremamente fácil para a censura classificar uma obra de "pornográfica" e acabou-se. O que precisa ser efetivamente compreendido num texto é sua profundidade literária como um todo, e não atacá-lo por uma palavra, uma frase ou uma referência. É a primeria vez que ouço falar que Shakespeare é pornográfico e alguns termos de suas peças devam ser "alterado" por outras. Assustado, eu digo: NÃO.
A literatura tem poder de alterar diversos rumos num meio. Quando ousa falar a verdade, ela passam a representar um perigo para os "donos do poder" que se veem acossados, emparedados pela força da palavra. Shakespeare não fez nada além de focalizar o íntimo dos homens, como raciocinam os poderosos, os apaixonados, como os indivíduos engendram seus crimes etc. O grande poeta inglês mostrou que os seres humanos sentem inveja um dos outros, trapeceiam, dissimulam, traem etc. Considero uma heresia censurar obras de tão alto valor moral e ético.
Que os EUA são uma nação puritana, todo mundo sabe. Ela já vetou a estudo do evolucionismo num passado não tão remoto, pois ele entra em conflito involuntariamente contra o Criacionismo Bíblico. (Consta que Darwin era religioso). Agora, tenta alterar uma obra desta importância. Nos anos 90, talvez para dar um basta nessa hipocrisia toda, uma mulher já calejada pela vida, escreveu uma peça que - coitados dos americanos - se tornou o maior êxito daquela década e excursionou o mundo. A palavrinha que os americanos odeiam ler de cara já aparecia no título da peça, e Eve Ensler teve o despudor de narrar tim tim por tim tim as funções do órgão genital feminino, repito: nos seus mínimos detalhes, mediante entrevistas com diversas mulheres. O título de sua obra-prima: Os Monólogos da Vagina. Deve ser o livro que encabeça o índex americano nesses últimos anos.
TEO JÚNIOR
Qualque espécie de censura soa como sendo uma maneira melindrosa e, pior, errática de impedir que determinadas verdades venham à baila, porque nem todas as verdades - como diz meu pai - podem ser ditas. Entretanto, a literatura é o campo (quiçá o único) que está numa posição privilegiada de se dizer tudo, sem meios-termos. A literatura tenta através do talento de certos homens e mulheres reprodizir, questionar, condenar os próprios indivíduos que pertencem a uma época e a uma sociedade. É como se o livro funcionasse como um "espelho público", onde nos enxergássemos continuamente, como dizia Molière.
Nada nos ensina mais do que os absurdos ocorridos nos períodos ditatoriais que tivemos, com mais violência o de 64, cuja canga fomos obrigados a suportar durante 21 anos. Jornalistas que de uma hora para a outra "suicidavam-se", teatros incendiados, atores boicotados na véspera dos espetáculos, sem aviso prévio da Censura Oficial, escritores presos e suas obras impedidas de circular (caso de Feliz Ano Novo, de Rubem Fonseca, de 1975 - tachado de "pornográfico"), para não falarmos da odiosa tortura.
A ditadura, pelo menos no Brasil, passou. A Censura (aparentemente) passou. Permaneceu a obra.
A Censura Oficial, ou seja ela qual for, quer-me parecer, ao vetar uma obra artística de chegar até o povo, julga estar "educando" este mesmo povo, coitado, tão fraco intelectualmente, tão inepto, que necessita de intérpretes que escolham por ele o que lhe é nocivo ou benéfico. Estranha, entretando, que em pleno ano de 2012 com a internet livre e os variados meios que oferecem sexo, violência a qualquer momento, que a sociedade americana - tão avançada e evoluída - tenha esse tipo de postura. É um retrocesso de quem acredita estar auxiliando uma sociedade, focalizada exatamente em sua raiz, ou seja, nos alunos, nos jovens estudantes, suprimindo-lhes obras essencialmente literárias, e o que é ainda pior: obras já consagradas, já canonizadas. Creio que num futuro próximo, esses adultos não gostarão de saber que um dia foram trapaceados pela educação que seus pais sustentaram, mediante pagamento de impostos.
Subliminarmente ou de maneira mais explícita, o sexo sempre esteve presente em tudo. Se se for suprimir uma obra porque ela focaliza o sexo, ou a violência, ou o crime, não fica um disco, um filme, um livro de pé. Num belo dia de 1958, após o espetáculo Os 7 Gatinhos, Nelson Rodrigues pediu a palavra e foi "explicar" sua peça à plateia (adulta) que a detestara e começara a gritar palavras de ordem. Precisava? Houve quem quisesse chamar a polícia. Será que esse público que pagou ingresso, não tinha condições - por si só - de refletir, de analisar as - vá lá - monstruosidades apresentadas? E a respeito da "intenção literária" do autor, será que alguém percebeu?
Mas do que a mera referência ao sexo, ou aos órgãos genitais, era extremamente fácil para a censura classificar uma obra de "pornográfica" e acabou-se. O que precisa ser efetivamente compreendido num texto é sua profundidade literária como um todo, e não atacá-lo por uma palavra, uma frase ou uma referência. É a primeria vez que ouço falar que Shakespeare é pornográfico e alguns termos de suas peças devam ser "alterado" por outras. Assustado, eu digo: NÃO.
A literatura tem poder de alterar diversos rumos num meio. Quando ousa falar a verdade, ela passam a representar um perigo para os "donos do poder" que se veem acossados, emparedados pela força da palavra. Shakespeare não fez nada além de focalizar o íntimo dos homens, como raciocinam os poderosos, os apaixonados, como os indivíduos engendram seus crimes etc. O grande poeta inglês mostrou que os seres humanos sentem inveja um dos outros, trapeceiam, dissimulam, traem etc. Considero uma heresia censurar obras de tão alto valor moral e ético.
Que os EUA são uma nação puritana, todo mundo sabe. Ela já vetou a estudo do evolucionismo num passado não tão remoto, pois ele entra em conflito involuntariamente contra o Criacionismo Bíblico. (Consta que Darwin era religioso). Agora, tenta alterar uma obra desta importância. Nos anos 90, talvez para dar um basta nessa hipocrisia toda, uma mulher já calejada pela vida, escreveu uma peça que - coitados dos americanos - se tornou o maior êxito daquela década e excursionou o mundo. A palavrinha que os americanos odeiam ler de cara já aparecia no título da peça, e Eve Ensler teve o despudor de narrar tim tim por tim tim as funções do órgão genital feminino, repito: nos seus mínimos detalhes, mediante entrevistas com diversas mulheres. O título de sua obra-prima: Os Monólogos da Vagina. Deve ser o livro que encabeça o índex americano nesses últimos anos.
TEO JÚNIOR
Nenhum comentário:
Postar um comentário