Daniel Barry/EPA
.
A luta pelo direito à liberdade sexual na Libéria sofreu um grave golpe essa semana quando a presidenta Ellen Johnson Sirleaf defendeu uma lei que criminaliza atos homossexuais em seu país durante uma entrevista ao jornal inglês The Guardian. Na Libéria o homossexualismo é delito punível com até um ano de prisão. Mas, novas propostas de lei querem endurecer ainda mais a repressão às liberdades sexuais. "Nós gostamos de nós mesmos do jeito que somos. Temos certos valores tradicionais em nossa sociedade que gostaríamos de preservar", disse a líder da nação Africana que ganhou no ano passado o prêmio Nobel da Paz.
Estranha declaração para alguém que se notabilizou por sua luta em favor dos direitos das mulheres contra “certos valores tradicionais” da sociedade. A pergunta que cabe agora é: Ellen Johnson ainda é merecedora de tal galardão? Para senhora Sirleaf algumas tradições, mesmo que engendre abusos, dissemine preconceitos e fira direitos individuais básicos, pode ser tolerada comodamente. Só na cabeça de um “Nobel da Paz” pode passar uma coisa dessas.
As discussões sobre os limites dos abusos contra os homossexuais na Libéria iniciaram quando um relatório do Departamento de Estado Americano, acusou o país de violações dos direitos individuais. De posse desses dados a secretária de Estado, Hilary Clinton decretou em dezembro passado que a ajuda americana na reconstrução da Libéria, devastada pela guerra civil, estaria condicionada ao respeito à liberdade sexual naquele país. Isso foi o bastante para que jornais da capital Liberiana iniciassem uma campanha difamatória em editoriais e artigos que descrevem a homossexualidade, que lá é chamado de “sodomia voluntária”, como uma “profanação” e uma “abominação” da natureza humana. Opinião, corroborada pela líder nacional.
Parece questionável que pretensas tradições culturais justifiquem crimes de ódio. Sob a chancela das tradições já se cometeram todo tudo de barbárie, vamos permitir mais esse? "Nos últimos seis meses, temos visto um aumento preocupante na retórica anti-gay, com ataques a indivíduos que lutam pelos direitos de liberianos se relacionarem com o mesmo sexo", disse Corinne Dufka, pesquisadora sênior de Human Rights Watch na África ocidental. No mês passado, informou a mesma reportagem do jornal The Guardina, houve pelo menos seis ataques homofóbicos na capital, Monróvia.
A ideia de tradicional pode ser, grosso modo, associada a certas práticas engendradas no seio de um grupo social, para lhe dar uma coesão. Porém, quando um contingente significativo dessa mesma sociedade já não mais aceita as tradições e questiona os seus valores não seria porque ela já começa a dar sinais de desgaste e precisa de reformas? A insensibilidade política, de mãos dadas, com o oportunismo eleitoral pode explicar declarações tão infelizes quanto a que deu a senhora Allen Johnson. As incendiárias declarações da presidenta, não ajudam em nada no esforço de reconciliação dos ativistas do direitos homossexuais e a sociedade conservadora que nega direitos e liberdades à quem não mais tolera a opressão.
Não é de hoje que Estados Africanos desrespeitam, em nome das tradições culturais, as individualidades. A homossexualidade já é ilegal em 37 países do continente. Por várias razões projetos de lei baseados em puro preconceito tentam restringir ainda mais os direitos individuais. Dez mulheres foram recentemente detidas em Camarões acusada de lesbianismo. Na Nigéria, as atividades homossexuais são punidos com até 14 anos de prisão. São absurdos como esses, que deixam em suspensão qualquer crença de que os homens, mesmo aqueles que foram vítimas de violação dos direitos humanos, como é o caso da presidenta Ellen, só são capazes de enxergarem a sua própria dor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário