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No momento em que a
cultura (essa ficção) se submete à tirania do entretenimento e as pessoas se
dão em espetáculos grosseiros em todos os veículos “merdiáticos”, retrocedemos
a uma cultura carnavalesca, onde tudo é embrutecido, banalizado, onde o que é
espalhafatoso e estúpido tem muito mais chance de ser recompensado do que o verdadeiramente
meritório. Estão aí os artistas fantoches, os programas de auditórios e jornalísticos
comprometidos com o lucro, os realities shows da vida, que não nos deixam
mentir que o homem moderno não passa de uma besta exibicionista. Qual de nós é
capaz de negar diante de tantas evidências de que vivemos naquela época “em que
tudo que repugna uma joia encontramos”, como escreveu Charles Baudelaire no seu
poema de abertura do livro As Flores do
Mal. E são assim que correm os dias. Nem mesmo a literatura escapa do
exibicionismo que prostrou os artistas a vulgaridade e entronou o frívolo como
o mais novo guia da manada. O que mais se vê por aí são poetas que abdicaram de
qualquer postura independente e séria, para seguirem o jogo da moda. “Nos nossos
dias” escreve Mario Vargas Llosa em seu mais recente livro La Civilización del Espetáculo (ainda sem tradução para o
português) “o que mais se espera dos artistas não é o talento nem a destreza,
mas a pose e o escândalo, os seus atrevimentos não são mais do que as máscaras
de um novo conformismo”. Oprimido pelo curral das convenções, impulsionado
pelos padrões do entretenimento, o artista contemporâneo, numa embaraçosa
postura de submissão aos credos vigentes, não emprega o seu oficio em ações
comprometedoras do gosto publico ou dos interesses da Indústria Cultural. As efemérides
ditam os rumos das coisas e o gosto médio assegura a sua qualidade. Quem será
capaz de se levantar e dar uma bofetada no gosto público?
4 comentários:
Acho que agora ampliou o exibicionismo por conta da internet. Qualquer um pode ter uma câmera e disponibilizar imagens bizarras.
É a democratização do espetáculo, já que todos podem se mostrar, chamar a atenção para si para se sentir importantes, mexer com suas vidas mornas e imaginar que deixaram alguma marca nesse mundo. Antigamente se dizia que a pessoa devia ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro. Ninguém quer tanto trabalho para se sentir imortal. Bem mais fácil receber torta na cara...
Como um ebola incontrolável, Tita, é triste constatar, que nem mesmo os artistas, resiste aos encantos do entretenimento. A maioria deles rebaixou docilmente a sua arte aos interesses do mercado de pulgas que se tornou a literatura e as artes contemporânea. Já nem falo das pessoas comuns. Essas têm o álibi da ignorância a seu favor, que lhes permitem viver de aparências, enquanto remoem as feridas que lhes doem internamente.
Pois é, sempre foram raros os artistas que não se venderam. Mas atualmente o consumismo exacerbado eliminou o idealismo em todas as áreas. Lutar por um mundo melhor? Só se isso render fama e/ou fortuna.
Tenho conversado com um amigo sobre artistas de todas as áreas que vendem a alma para ganhar o centro do palco, mesmo que para isso tenham que abrir mão do próprio estilo, do bom gosto e do belo com a intenção do dinheiro a qualquer custo. Cada vez mais ganha espaço uma arte deformada pela falta de qualidade, de criatividade, de significado e de emoção.
Sim, aparecer é fundamental... Mesmo que para isso tenha que amarrar uma melancia na cabeça.
mto boa a reflexão!
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