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O dramático retorno de Ulisses à Ítaca é
cheio de reveses. Tendo vencido todos, ele ainda haverá de enfrentar o maior
deles, a reconquista de sua casa assediada por forasteiro que cortejam a sua
esposa. Disfarçado, pelas razões que todos conhecem, ele terá que provar quem é
para retomar o seu posto. E a que expediente ele recorre para fazer isso? Ele
invoca o passado. É a sua vida pregressa ao cerco de Troia, às suas memórias de
infância, as experiências de vida ao lado de sua mulher que o permitirão
penetrar na sua terra e lhe assegurar as últimas vitórias sobre os usurpadores
de seu trono. A sua velha ama reconhece-o graças a uma cicatriz que tem desde
criança, Penélope reconhece-o devido a um segredo que só eles partilham a
respeito da construção da sua cama, o pai reconhece-o quando o filho começa a
nomear os nomes das árvores que aquele lhe ensinou quando era criança. E não
esqueçamos Argos, o seu fiel cão. As aventuras de Ulisses partilham conosco a
ideia de que a construção sólida de um futuro está intimamente ligada a
valorização e reconhecimento de nosso passado. Haverá sempre um perigo a nos
rondar cada vez que nos esquecermos do nosso passado. A nossa identidade, o
nosso sentido de futuro está assegurado pelas memórias que temos de nossa vida.
Perder a memória é perder o sentido de quem somos. Sem isso não poderemos jamais
imaginar para onde vamos e qual o propósito de nossa vida. Além disso, nossa
terra estará sempre assombrada por ameaçadores intrusos sempre dispostos a nos
deliberar os caminhos de nossa existência. Só há uma maneira de defendermos a
nossa terra, tomar posse de nossas memórias e assegurar a sua perpetuação.
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