Hércules e Anteu - A realidade suspensa


Vendo a capa do livro de Marco Haurélio que ainda não possuo, Os doze trabalhos de Hércules, ocorreu-me lembrar a história de Anteu. Segundo a mitologia Grega, Anteu é um gigante que obriga a todos os viajantes a lutar contra ele. Em suas lutas, cada vez que seu corpo é atirado à terra ele se levanta ainda mais forte, porque a Terra (deusa Gaia, sua mãe) lhe restitui as forças. Enquanto estiver em contato com o solo Anteu é invulnerável. A sorte dele muda quando encontra Hércules que viajava pela Líbia em busca dos pomos de ouro do Jardim das Hespérides. Hércules luta com o gigante. Na refrega atira Anteu três vezes ao chão. Três vezes o gigante se levanta ainda mais rijo. Astuto (sim, porque o herói, não é apenas um monte de músculos) Hércules percebe que o filho de Gaia (Terra) volta à luta sempre mais forte. Hércules então soergue-o do solo que o tornava invencível e o estrangula. Um sem número de pinturas reproduz esse combate e o sortilégio do herói grego para vencer o gigante ameaçador. Há muitas lições nessa história que os antigos aproveitaram dos contos populares. Uma delas é que para sobrevivermos necessitamos, como Anteu, de estar sempre com os pés bem assentes ao chão. Precisamos do nosso bocadinho diário de realidade. Mas ela ensina também que em excesso a realidade também pode ser alienante e é preciso como o herói grego fez, suspendê-la.  Assim como precisamos de realidade, também precisamos de um bocado de irrealidade. São importantes os telejornais diários, os debates eleitorais, a compra de pão na padaria, mas mais do que isso são também indispensáveis as leituras literárias, as apreciações de quadros, as mitologias, as religiões, os mitos, as músicas e voos às regiões da imaginação, para suportarmos o peso e a força que nos prende ao chão.

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