Recolhidas através da observação do povo
as coisas à sua volta, as quadras populares exalam sentenças judiciosas sobre o
comportamento probo de alguns e questionáveis de outros. Consciencioso, o povo
não manda recado. Exalta quem deve ser exaltado. Rir de quem deve-se rir e
troça quem deve ser troçado. Alguns dos melhores exemplos dessa atitude poético-filosófica,
confunde-se com as melhores doutrinas dos filósofos moralistas. Entenda-se
moralista aqui não no sentido dos defensores de uma moral conservadora, mas sim
como aqueles que criticam os costumes e são atentos observadores da mentalidade
e do espírito social. Corrompendo e adulterando o verniz social, que recobre as
faces verdadeiras da sociedade, a poesia popular infringe o decoro que finge
não ver o que todos veem. Dão por isso testemunho de um mundo verdadeiramente hipócrita,
mesquinho e falso.
Meu
mano, meu camarada,
Tudo
no mundo é assim:
Comigo
ocê fala de outros,
C´outros`ocê
fala de mim.
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Quem
tem aza não avôa,
Quem
não tem quer avoar;
Quem
tem razão não se queixa,
Quem
não tem quer se queixar.
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Alfaiate
quer tesoura
Sapateiro
quer tripeça
Moça
bonita quer outro
Moça
velha quer conversa
******
Há
duas cousas no mundo
Que
dão confusão na gente
É
padre ir para os infernos
E
doutor ficar doente
******
O
padre quando namora
Sempre
põe a mão na coroa,
Namora,
padre, namora,
Que
o senhor tudo perdoa.
Quantos poemas, considerados belos e
exemplares, foram produzidas longe de um contexto como este que descreve com tanta
penetração as imposturas sociais?
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