Nunca imaginei fazer um curso de
datilografia - os mais jovens não sabem o que é isso - até fazer um. Nunca
ocorreu-me, mesmo naqueles momentos de divagações a que todos nós estamos
sujeitos, a possibilidade de ir à Itália, até que esse dia improvável chegou.
Em tempo algum pensei em fazer um curso universitário, antes de fazer um curso
universitário. Jamais ocorreu-me ser professor universitário; abrir uma empresa
e acabar (ao menos momentaneamente, ou não) coordenador pedagógico de uma
escola rural de um distrito de minha cidade, que antes do trabalho, jamais havia
posto os pés, mesmo vivendo na mesma terra a mais de 12 anos.
Como as vidas são íntimas e nenhuma é
igual a outra, deduzo que a alguém sucede os caminhos não serem tão tortuosos,
nem assimétricos ou irregulares como os meus. Muitos já nascem fadados a uma
vida sem muitas surpresas. Do berço ao túmulo poucos percalços acidentam sua
rota. É o caso dos monarcas, cujas vidas já se sabe de véspera, mais ou menos,
o seu fim. Veja-se a propósito o burburinho real com o nascimento do príncipe
George, terceiro na linha de sucessão do trono Inglês. Ninguém ousa dizer que
sua vida é imprevisível. Mesmo que não venha a se tornar rei, como se supõe,
será improvável uma rota irregular em sua existência, que o desvie do fadário
real e de todas as suas obrigações encarrilhadas.
Já a nós, pobres mortais, a vida não é
regida por uma ordem prévia, mas se faz sentir pelas circunstâncias que vão ora
aqui, ora ali, descrevendo ao acaso, uma órbita improvável. Censuramos a vida
por essa volubilidade. Frequentemente nos queixamos por não a vê-la como
queríamos. Esbravejamos, berramos e maldizemos a sorte, por nos impor fardos
que sentimos, demasiadamente, injustos. Tudo isso, para descobrirmos depois de
muito tempo, que não adianta queixumes. Os lamentos não nos traz de volta a
fortuna, que imaginávamos estar destinados. Antes, revela-nos, que jamais
chegamos a possuir sorte maior do que a de estarmos vivos e que esta dádiva tem
um preço. Nec semper lilia florente é
a expressão cunhada por Ovídio na Arte de Amar para dizer que nem sempre as
coisas nos são favoráveis. Contentemo-nos com isso. Nem todos escapam a fortuna. Muitos estão ao sabor do acaso.
E agora o que a vida me reserva?
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