Vida-circo


Foto: Justin Bartels
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Deve ser bom poder ir à vontade para qualquer lado. Estar sempre a guiar-se pela ponta do nariz e deixar-se ir, sem saber existir alguém ou alguma coisa, que possa interferir em nosso caminho. Querer ir a norte e ir a norte. Querer ir a sul e ir a sul. Percorrer assim caminhos, sem dar noutro lugar a não ser aquele traçado de véspera. Deve ser bom poder ir estrada afora, ter o pó, o sol, a chuva, o vento e um horizonte sem fim a acarinhar nossa autodeterminação. Estar ali entre essas coisas miúdas deve nos dar a certeza do nosso tamanho. Há de ser bom estar por lá onde temos a medida certa. Melhor do que estar a escrevinhar ofícios à junta ou a apanhar migalha ao chão, fingindo que os salamaleques são devidos a quem lhe paga o repasto. 

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