Foto: Dani Shitagi
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Uma lógica perversa vem
reduzindo todas as coisas ao sagrado critério da funcionalidade. Da arquitetura
moderna e seus discursos sobre a praticidade do meio, às escolhas paternas de
escolas de músicas para os filhos, porque estas desenvolvem o raciocínio lógico;
a arte de nosso tempo sucumbiu ao discurso do utilitarismo e só é consumida se
"servir para alguma coisa”. O que conta mesmo nas artes de hoje são apenas
os seus aspectos práticos, funcionais e utilitários.
E quem diz funcionalidade
na arquitetura e na música diz literatura, cinema. Basta ver nas escolas como o
cinema foi apequenado. Hoje assiste-se um filme apenas para que este aluda a um
assunto que se quer discutir. Nas universidades, a literatura deixou de ser o elã
despretensioso, para rebaixar-se aos discursos panfletários de moralistas.
A ninguém é suposto a
ideia de que a escolha de uma leitura ou de um filme se dê pelo mero prazer
subjetivo que este provoca. Aos discursos utilitaristas é preciso algum valor
aderente ao objeto artístico para que esse adquira legitimidade. Mais não é
isso que realmente torna a arte valioso. Todas as vezes que predominar o fim na
arte, escreveu Kant, teremos “beleza aderente” a obra. Entenda-se fim aqui como
aquilo que têm utilidade prática na vida. Quando não há predominância do fim,
temos “beleza livre”, desinteressada.
E é a esse último modo
de ver a arte, privada de interesse, que a torna indispensável. Sem estar sujeita
a priori a imposições de conteúdo,
forma e outros condicionantes, a arte se basta. Nessa concepção ela não serve para
nada, e quanto menos servir para alguma coisa mais valiosa será. Não se
reduzindo a uma realidade circunstancial a arte livre dos conceitos utilitaristas,
contribui para formar uma imagem do mundo, das pessoas e das relações, tão
complexas, em sentido universal.
Um comentário:
Enquanto a arte for observada sobre ótica da ciência, ela jamais alcançará o seu real objetivo. A arte tem que ser vivenciada, sentida e para isto é preciso se permitir. E são poucos que se dispõem a esta questão.
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