Brandos costumes

Foto:   Ernst Haas


Ligo a tevê e ouço aos berros alguém dizer: “nós vamos descer o pau”. É o presidente de um sindicato, ameaçando um prefeito e os usuários de um serviço de transporte, do qual ele é contra. Mudo de canal. Dou com a notícia de que o filho de um ex-presidente, sugere em uma rede social que “o país vai pegar fogo” se o seu pai, que é hoje alvo de investigações sobre suposto favorecimento em negócios com empreiteiras, que estão sobre acusação de desvios de recursos públicos, continuar sendo investigado. Não suporto o que vejo e corro a outro canal. Aí encontro, possesso, um apresentador, falar estridentemente aos seus espectadores que, “bandido bom é bandido morto”. Fala isso, enquanto uma enquete, em baixo do vídeo, mostra os números de espectadores que concordam com ele subindo sem parar, na frente dos que esmorecem desencorajados pela pergunta, se são contra ou a favor das ideias tresloucadas do jornalista falastrão. Desisto da tevê. Vou à escola e encontro amigos professores que também não se constrangem mais em afirmar coisas, que há tempos achava superado pela posição que eles ocupam. Muitos pedem a expulsão de alguns alunos e dizem com todas as letras que alguns “não têm jeito” ou que estão ressentidos por não “poderem dar às crianças aquilo que os pais não deram: peia”. Ouço, leio e vejo todas essas barbáries e dou graças a deus que ainda bem que o poder dessas pessoas não está à altura de suas vontades, porque de outra sorte, o mundo seria um lugar dantesco, com gente a bater com paus em seus desafetos, queimar pessoas em desacordos com suas opiniões e castrar crianças por serem crianças e darem trabalho como as crianças costumam dar.  

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