cena do filme Blow Up
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Em depoimento no documentário, Janela da Alma, o escritor português José Saramago revela-nos como a realidade pode ser uma coisa assustadoramente fabricada, artificial e enganosa aos olhos.
Estava ele certo dia na ópera de Lisboa ocupando o lugar de sempre, que dava de frente ao palco. Num outro, por acaso, teve que mudar, e foi sentar-se num dos camarotes contíguos ao palco e lá de cima, a visão que se tinha do palco era reveladora, e foi lá que se deu uma epifania.
Durante a realização da apresentação outra coisa chamou a sua atenção, bem mais dos que a inebriante música que ocupava o ambiente e distraia os sentidos de todos, com pura beleza e encanto.
É que do lugar que antes ele ocupava se via um palco que em tudo lembrava a riqueza e o luxo das melhores casas de ópera. A sala ricamente ornada com um largo e vistoso palco sobre o qual pendia uma coroa cheia de brilho e luxo lembrava aos espectadores que aquele lugar reinava a solenidade e o decoro.
Porém, deslocado seu campo de visão dentro do mesmo ambiente, ele viu que por detrás do palco nobremente ornamentado, um emaranhado de fios, casas de aranhas, sujeira e restos de objetos esquecidos pelo tempo davam ao espaço outra dimensão, que somente a nova posição revelava.
Dessa visão ele sacou a lição que ensina: para se ter um conhecimento mínimo sobre a realidade e para descondicionar o olhar sobre os objetos, evitando criar sobre eles expectativas fantasiosas, “há que se dar a volta”.
2 comentários:
Rogerito, amigo, q volta hein!
Uma volta nas várias expressões artisticas.
Esses dias conversava com um amigo sobre as informações que desinformam, ou seja, as falsas verdades. Este seu texto vem completar o que diziamos.falavamos inclusive de Cézanne, que vc cita em outra postagem. No caso cezanneano, meu amigo enfatiza que uma visão equivocada da sua arte gerou até um movimento de arte(o cubismo), mas é outro detalhe mais conhcido q me chama atenção, ele diz que a Tarsila diz em uma entrevista para um jornal que não esteve prresente fisicamente na semana de 22. De fato é preciso dar a volta e tentar um novo olhar...
bjs
Rogério,
O cenário na ópera de Lisboa era apropriado para os espectadores que estariam no térreo e, talvez, não pensaram que outros no camarote teriam a visão de objetos que não desajariam que fossem vistos, sendo assim foram pegos de surpresa. Este tipo de ambiente não está lá em Portugal, mas, sim mais próximos de nós, quem sabe em nossa casa; quem sabe mais próximos de nós e, coloca-se como a velha história, somos uma coisa e mostramos outra. Isso nos ensina muitos sobre o ser humano. Quando falamos com alguém o mesmo mostra-nos o que ele quer que vejamos. Mas, será que a pessoa é tal e qual nos mostra!? Como José Saramango refletiu “há que se dar a volta”. Parabéns, pelo texto.
Zenilton, graduando de História UNEB VI
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