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Para lá de todas as coisas amáveis,
para lá de todas as coisas desejáveis,
a tua nudez na ponta dos meus dedos,
uma bola de fumo pairando sobre o piano
e cada poro teu tocado como se fosse
uma tecla, uma tecla emitindo o som
de cordas surdas, as tuas veias, cada
um dos teus nervos, e eu enredado
em ti como o insecto na teia da aranha,
para lá de todas as coisas definíveis,
os contornos do teu corpo à luz
de um tecido transparente, beleza
incomparável acossada pela fealdade
das notas, dos acordes atonais, para
lá de ti, para lá de mim, a paixão
capturada pelas máquinas fotográficas,
projectada numa tela à velocidade
iludente do cinema, para lá das salas,
para lá da luz, nós os dois denegridos,
deitados no quarto escuro da paixão.
Para lá de todas as coisas amáveis,
para lá de todas as coisas desejáveis,
a tua nudez na ponta dos meus dedos,
uma bola de fumo pairando sobre o piano
e cada poro teu tocado como se fosse
uma tecla, uma tecla emitindo o som
de cordas surdas, as tuas veias, cada
um dos teus nervos, e eu enredado
em ti como o insecto na teia da aranha,
para lá de todas as coisas definíveis,
os contornos do teu corpo à luz
de um tecido transparente, beleza
incomparável acossada pela fealdade
das notas, dos acordes atonais, para
lá de ti, para lá de mim, a paixão
capturada pelas máquinas fotográficas,
projectada numa tela à velocidade
iludente do cinema, para lá das salas,
para lá da luz, nós os dois denegridos,
deitados no quarto escuro da paixão.
Henrique Manuel Bento Fialho, A Dança das Feridas, Colecção Insónia, 2011.
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