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Algumas pessoas
insistem em afirmarem que a ficção, em oposição a realidade, é o império do
falso, do inverídico e do impalpável. Algo a que não se pode dá crença. Mas
essa afirmação parece não se encaixar bem na personagem (portanto algo falso)
que Rita Hayworth criou em 1946. No auge de sua beleza, Rita, aos 28 anos, deu
vida a Gilda, criação que transbordava sensualidade e ousadia, numa época de
grande repressão sexual. A máquina de fazer realidades através da ficção que é Hollywood
botava em cheque, o discurso dicotômico, real x ficção. Gilda tornou-se,
através do impossível ficcional, o alvo do desejo de dez entre dez jovens
americanos do pós-guerra. Se a realidade é algo que se pode sentir através dos
sentidos (tato, paladar, olfato, audição) nada foi mais real para aqueles
jovens do que aquela presença ilusória criada pela câmara escura dos cinemas e
que traduzia todos os seus desejos de uma forma que a realidade ainda não havia
alcançado. Tanto é verdade isso que o slogan promocional do filme era: “NUNCA
HOUVE UMA MULHER COMO GILDA”. Ruy Castro, admirador do filme lembra que a
presença de Gilda nas telas da época só podem ser medidas em megatons, dada sua presença marcante: “os
filmes americanos não mostravam uma mulher tão sensual e dadivosa. Seu impacto
em 1946 pôde ser medido até em megatons: pouco depois da estreia do filme, a
bomba que os americanos explodiram no atol de Bikini, no Pacífico, na primeira
experiência nuclear em tempo de paz, foi batizada de Gilda, pela equipe que a
construiu. Trazia, inclusive, um desenho de Rita na carapaça numa publicidade
espontânea e sem preço.” A ficção, ao contrário da realidade, nos promove uma experiência
outra das coisas, muito mais intensa e viva. Por isso os gregos acreditavam que
a ficção era mais importante do que a realidade. A ficção por sua natureza inapreensível
nos promove uma descoberta com o essencial das coisas. A realidade, pelo contrário,
é o encontro com a aparência.
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