.
Encontrei essa foto no Google. Ela não
está creditada. Porém imagino que seja do cubano Alberto Korda. Ele foi o
fotógrafo oficial da Revolução Cubana e autor da icônica Guerrillero Heroico, foto de Che Guevara, que ainda hoje estampa
bandeiras em manifestações de revoltas por todo o mundo. Mesmo não tendo pegado
em armas durante a Revolução, Korda ajudou a construir a imagem mítica de
liderança de Fidel Castro e dos demais guerrilheiros que derrubaram a ditadura
de Fulgêncio Batista. O registro de uma câmera sugere o famoso ensaio, Sobre a Fotografia,
da americana Susan Sontag, produzem muitos efeitos. Ao tempo em que fornece um
testemunho de que as coisas realmente aconteceram, ela também pode: incriminam,
distorcer a realidade, idealizar, mitificar ou agir como um instrumento de
desagravo. Apesar da presunção de veracidade que confere autoridade de que
alguma coisa realmente aconteceu, uma imagem pode ser muito mais do que ela
apresenta na superfície. Ao preferir uma cena à outra, ao enquadrar um instante
ao em vez de outro, o fotografo induz a maneira de se ver uma realidade e
solicita do espectador certa solidariedade àquilo que está sendo retratado. A
emblemática imagem que ilustra esse post simboliza, inconscientemente, esse efeito
do líder destemido, construída através das imagens produzida por Korda de um
Fidel em atos heróicos e que inspira coragem e destemor. Ao mesmo tempo em que
diverte as massas, como um comum, o Fidel de Korda, exterioriza sua liderança
em gesto que induz a representação do poder em face às adversidades. Uma
metáfora de sua condição irrevogável de rebatedor das adversidades cubana,
frente aos ataques do inimigo. A presunção de desinteresse sugerida pela cena
torna o trabalho fotográfico de Korda um ato de genialidade. Espelhando aqueles
ritos sociais que tornam a fotografia um passatempo familiar despretensioso,
Korda construiu uma imagem prosaica, mas de fundo inteiramente ideológico, sem
parecer, no entanto, panfletário. A sedução dessa foto, seu poder sobre nós,
reside no fato de que ela nos oferece uma dramatização, mas induz no subterrâneo
do gesto e no enquadramento da cena, de modo sub-repticiamente, a pensarmos que
a realidade, enfeixada por uma câmera, dependendo do ângulo de mirada do
incauto, esconde intenções indizíveis.
Nenhum comentário:
Postar um comentário