São muitos os equívocos do monólogo Solo Almodóvar
por Téo Júnior
Salvador
Pedro Almodóvar, um dos mais extraordinários diretores de
cinema do mundo e o principal de seu país, Espanha, que se notabilizou nesses
últimos trinta anos como sendo dono de um estilo personalíssimo e imediatamente
reconhecível, que Adriana Calcanhotto citou na bela música Esquadros,
mereceu a homenagem da atriz Simone Brault no espetáculo Solo Almodóvar,
em cartaz no Teatro Martim Gonçalves (Canela) neste último fim de semana. O
início da peça, para começo de conversa, é uma cópia ipsis litteris de
uma cena de Tudo Sobre Minha Mãe, aquela em que Agrado (Antonia San
Juan) entretém os espectadores com a “história de sua vida” porque as
principais atrizes faltaram. Daí, nossa Dolores se entrega a discussões
estéreis sobre as dificuldades que os travestis enfrentam, suas experiências
com os homens – quase sempre frustradas –, e o tempo custa a passar.
Colabora para o descalabro da montagem, a protagonista
dedicar todo o espetáculo pronunciando um portunhol sofrível, quando ela
poderia perfeitamente optar pelo português. No palco, uma enorme sandália
remete ao filme De Salto Alto; as músicas e certas cenas que Simone
interpreta e alude estão, claro, na filmografia do diretor, com destaque para A
Lei do Desejo, onde Antonio Banderas contracenou, no longínquo 1987, com o
hoje obscuro Eusébio Poncela (há uma inesquecível cena de sexo). A
interpretação de Simone para Lo Dudo (Duvido), do Trio Los Panchos, não
é à toa. Os figurinos estavam caprichados.
Almodóvar, mestre no colorido exacerbado e que soube
retratar como ninguém o universo feminino (Volver), os travestis e suas
obsessões (Má Educação) e a sexualidade mostrada de forma bonita até (Carne
Trêmula) merecia um roteiro original e satisfatório – o que, infelizmente,
o autor Vinnicius Morais, em mais de uma hora de encenação, não pôde oferecer.
Quem sabe na próxima vez.
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