Vivemos numa sociedade em que a todo instante as pessoas
querem tranquilizar-se acerca de seu valor. Não lhes bastam a certeza
individual de que elas são especiais. É preciso o julgamento favorável dos
outros para serenar as dúvidas quanto as suas qualidades.
Já velho em nossa sociedade industrial, esse fenômeno de
estrelismo explícito, tornou-se ainda mais evidente depois do advento das redes
sociais. A exposição fácil potencializou o fetichismo dos narcisistas por
audiência às suas pretensas qualidades de sobredotados.
Vemos assim surgir a cada instante, nesses sítios de
adoração pessoal, tentativas forçadas de extrair dos amigos uma palavra de
conforto que pacifique as ilusões mais delirantes, daqueles que se imaginam
injustiçados pelo mundo, porque não são reverenciados com a devida atenção que
julgam merecer.
Vale de tudo para estar em evidência e tranquilizar assim a
consciência da certeza de que se tem algo a mais do que os outros. Os
desesperados recursos postos em marcha, para validar a satisfação pessoal por
reconhecimento, são infindáveis. Uns se cobrem de marcas caras e pousam ao lado
de carros na esperança de verem o desejo, que esses objetos provocam nos
incautos, migrar para si. Outros postam fotos de pernas pro ar, brindando
solitários com o vento à beira da piscina, à espera de mesuras às suas
invejáveis conquistas materiais. Há ainda aqueles que lhes enviam textos cujo o
único propósito é saber se você estar mesmo lendo e acompanhando tudo o que
eles escrevem. Os mais suspeitos, de que não passam mesmo de coadjuvante no
grande palco do mundo, entulham as suas timeline com autorretratos elogiando a si mesmo
e curtindo todas as suas fotos. Ao invés de se evidenciarem, todos esses atos
denunciam apenas a completa invisibilidade dessas pessoas.
Desconfortáveis consigo, elas, pagariam qualquer coisa para
serem iguaizinhas as mais bem sucedidas estrelas da música, do cinema, da tevê.
Mal sabem, porém, que as invejáveis divas estão tão insatisfeitas e
fragilizadas a respeito de seus valores quantos os invejosos do “sucesso”
alheio nas redes sociais. O problema não são as pessoas, mas o modo de vida que
exalta um ideário falacioso de felicidade que não se conforta consigo mesmo,
mas atribui a outro toda motivação para continuar seguindo a jornada da vida.
Num mundo onde impera a culpa pelo fracasso de não se ter
elevado a nenhum posto de destaque na sociedade, as pessoas dão-se em
espetáculos bisonhos na tentativa de se redimirem por não terem alcançado o
esperado sucesso determinado pela sociedade. O fracasso, em nosso mundo, é
inadmissível e ele está intimamente ligado ao não cumprimento de determinações
externas à nossa vontade. Escravizados por forças contrárias a vida
simples, entregamo-nos a toda sorte de alucinações, só para cumprir o
papel social que os outros nos impuseram.
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