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De todas as expressões artísticas, a que
menos me entusiasma é a música. Posso ficar meses sem ouvir uma única canção e
assim mesmo não dar pela falta dela. Não fossem os cacofônicos cantores
midiáticos, que lamentavelmente fazem as graças dos carros de sons-publicitários,
e nem desconfiaria de que vai música no mundo. Como veem, não sou aficionado
pela música. Prefiro antes um livro, um filme ou mesmo as horas de contemplação
às obras de arte e aos trabalhos fotográficos que vou descobrindo enquanto
cultivo o silêncio.
Nasci, a julga pelos hábitos modernos de
andar com fones de ouvidos metido à orelha por todos os cantos, com o ouvido
torto aos sons que escapam as rádios, tevês e aparelhos eletrônicos que seduzem
a todos. Vai daí que para o mundo contemporâneo meu ouvido é inútil. Prefiro
assim. Antes o silêncio. O mundo é-me uma coisa escandalosamente ruidosa, onde
estar impenetrável aos vestígios de sons, parece impossível. Por isso aprecio o
lar.
Depois do trabalho, o que mais me
apetece é encontrar as paredes, que me isolam do burburinho mundano e me mantêm
imunes aos ruídos que fazem do mundo uma caixa de som ensurdecedora. No lar sinto-me
com a sensação de estar em um mosteiro em que gostaria de estar, cultivando o que minha fantasia monástica vai delirando. Nele posso
conter o tumulto e isolar os sons que não me agradam e dedicar-me ao exercício
da quietude ante um mundo cheio de estultícia.
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