Foto: O poeta Marco Haurélio lendo um cordel na rua como os antigos cordelistas faziam.
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Na generalidade dos textos, que se convencionou chamar de Populares,
aparecem histórias notáveis. Essas narrativas carregam consigo, ensinamentos e
valores incalculáveis que não podem, de forma alguma, serem ignoradas. Vindo de
eras pretéritas, elas apontam ao homem do presente, rotas alternativas, aos
compromissos absurdos, que apenas conduzem os seres ao descalabro.
A mula sem cabeça, O lobo e o Cordeiro, A cigarra e a formiga, O Saci
Pererê, O pequeno Polegar, As babuchas de Abu Kasem, A história dos dois
homens que sonharam, os poemas dos cordelistas, o repente dos repentistas, são
entidades e narrativas que atormentam, entretêm e educam as gerações e as
comunidades por onde vão passando, orientando a todos em condutas probas e
saudáveis ao convívio coletivo.
Dos testemunhos literários dessas narrativas podemos perceber o lado
mais oculto e sombrio da natureza humana. Neles podemos também fazer-nos melhores, para encarar
as inevitáveis tormentas, que também fazem parte do pacote de se estar vivo,
num mundo cercado de tristes belezas.
Bem percebidos, os ensinamentos colhidos nessas histórias, lendas,
fábulas e contos, serão capazes de dotarem às novas gerações de saberes
elementares para a sua sobrevivência na comunidade, e para a sobrevivência da
comunidade enquanto entidade agregadora, solidária e mantenedora da ordem
social.
Mas se ignoradas, da forma que estão sendo no mundo atual, em nada podem
ajudar as crianças, os jovens e os adultos que pretendem superar seus temores
internos, contornar os seus dramas sociais, ou livrar-se dos vícios e das
inconstâncias que nos sacodem de um lado a outro da existência, sem nos dar
sossego.
As mensagens ocultas, que nos chegam nas vozes mais sabias do passado,
conduzem-nos, mais seguros pelas florestas escuras. Vai daí que não podemos
desperdiçar esse guia confiável e experimentado que são as histórias populares.
Esta era a conclusão do maior folclorista brasileiro, Câmara Cascudo. É a
cultura popular na sua dimensão mais lúdica, a ferramenta mais eficaz na
orientação do homem, perdido em terras estranhas.
Infelizmente, essas histórias, continuam a serem tratadas como matéria
decorativa para algum folclore barato, que pais, professores e autoridades
políticas vão empregando para melhor desaperceber os que delas poderiam tirar
proveito. Não fosse a Literatura Popular, encaradas com a obtusidade habitual dos que veem a
cultura popular de forma tão apequenada, dariam a todos grandes lições.
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