Muito antes do tempo enlouquecer, e dos
sinais andarem trocados, e já não mais se saber quais os dias chuvosos, ou
quais os de seca, a sabedoria popular, orientada pelos saberes antigos, antevia,
se o ano seria bom para plantação, ou se frustrado por algum revés, o homem do
campo teria que investir redobrados esforços para vencer as dificuldades pela
sobrevivência.
Inda ontem estes sábios, dados a vaticínios
de seca e inverno, consultavam os céus, os astros, os animais e os cantos dos
passarinhos para predizerem o futuro meteorológico da sua comunidade. Os sinais
estavam por toda parte.
Câmara Cascudo, que foi quem melhor
observou os costumes do povo, sobre as predicas meteorológicas, escreveu: "Existem
no Brasil, e universalmente, fórmulas da previsão tradicional para o
conhecimento do futuro inverno. Deduz o povo o prognóstico de vegetais,
animais, aspectos atmosféricos, nuvens, estrelas, constelações, incidência
pluvial em determinados dias...”.
A lua apareceu embarcada num halo avermelhado
e grande por trás da silhueta de um carnaubal? isso indicia uma boa quadra
invernosa. Se a aura que envolve a lua for pequena as chuvas serão poucas. Sobre
a cumeeira da casa pousou uma borboleta e por lá esqueceu-se por três dias? É
bom preparar a terra, tudo indica que o céu apronta água pra derramar sobre os
homens.
Além dos astros celestes e dos insetos, a
percepção de outros seres pressagia ao homem do campo os rumos do tempo: “Sapo cantando ao anoitecer, bom tempo vai
fazer”. Ditos e expressões populares exprimem um sem-número de alegorias meteorológicas
que correm pela boca do povo exemplificando em analogias simples o
comportamento do tempo. “Cabras tossindo
e espirrando, o tempo está mudando.” Ou ainda "Formiga carregando ovos barranco acima, é chuva que se aproxima.”, “Céu pedrento
muita chuva e muito vento”.
Verdadeiros prodígios, os homens do
campo conhecem a linguagem, não apenas dos animais e dos astros, são versados ainda
na linguagem dos ventos, que de acordo com sua direção podem lhes indicam os
caminhos, a sorte ou os maus destinos. “Vento norte, três dias forte”, ou então
“Vento de Lomba, frio na tromba”. Se
ele muda de direção repentina, talvez indique algum desgosto: “Vento de leste não traz nada que preste”.
Os ventos ainda exemplificam, através de sua inconstância, alguma infidelidade:
“Amigos de ocasião são como o bom tempo,
mudam com o vento”. “O vento tanto
junta a palha como a espalha”, “Vento
de todo o lado é mandado p’lo diabo”.
Em Tradições, ciência do povo, Cascudo
observa que esses ditos e expressões meteorológicas do povo são “sem idade”,
eles, segundo o mestre potiguar, são: “resultados de longos e obscuros
processos de raciocínio, critérios-soluções, herdadas, indeformáveis, e
reproduzidas íntegras, ante o automóvel e o avião”.
Destacamos abaixo alguns ditos e seus
países de origem, segundo Sartori em seu livro: Clima e percepção.
"Asas abertas no galinheiro, sinal de aguaceiro." (Índia);
"Andorinhas a mil braças, céu azul sem jaça; andorinha rente ao chão,
muita chuva com trovão." (China; Japão; Coreia; Rússia; Turquia;
França e Suíça);
"Mosquitos voando em bando é sinal de chuva." (China)
"Sapo cantando ao anoitecer, bom tempo vai fazer." (Espanha)
"Gato se lambendo é sinal de chuva." (Reino Unido, Holanda e
Bélgica)
"Céu avermelhado de manhã, chuva de tarde; tarde avermelhada, tempo bom."
(China)
"Quando o Sol está em casa, a chuva não tarda." (Índios Zuni,
do Novo México, EUA)
"Um círculo grande em volta da Lua é sinal de chuva iminente; um círculo
pequeno é sinal de que a chuva ainda demora." (Índia)
A sabedoria popular é infinita. Tudo
isso, e mais alguma coisa, se pode aprender com o povo, que guarda em sua
simplicidade, os códigos de acesso aos segredos da natureza e outras
maravilhas.
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