Paul Strand, Cega, 1916.
Nunca me esquecerei da frase do ex-presidente Lula, que no explodir das denúncias do mensalão saiu a público a dizer: “Eu fui traído”. Depois ele esqueceu isso e voltou a abraçar os
companheiros que meteram a mão no erário público, achincalhando a República. Na
ocasião se debateu muito que não era possível que um governante de um país como
o nosso, continental, vigiasse tudo o que seus comandados faziam ou deixavam de
fazer. Ninguém sabe o que vai no coração do homem. Amenizou-se assim a
responsabilidade do presidente nos atos de seus comandados diretos. Alguns governantes, talvez tenham boa-fé e
deleguem aos seus auxiliares poderes, esperando que estes retribuam a confiança
com o máximo zelo. Coisa que nem sempre acontece. Se vale a boa-fé vale muito
mais a seleção criteriosa. A escolha de um ministro e auxiliares do alto
escalão é entre todos os atos governamentais uma demonstração de direção do
governo. Para onde vai o governo, o que quer e espera fazer? O mandatário deve
ter plena confiança em seus ministros, de outra maneira por que os escolheria.
Essa é uma lógica razoável. A escolha pelos méritos e a confiança na execução
do trabalho pelo registro do histórico de atuações pregressas na área, também é
outro critério que deveria ser observado. Esta é uma lógica razoável, insisto,
porém não no Brasil. Aqui os critérios, como bem mostrou a escolha da
presidenta Dilma na composição de seu novíssimo ministério atente a outra
lógica, somente aceita e compreendida nos escritórios e reuniões palacianas de Brasília.
Ao eleger Helder Barbalho para o ministério da pesca, Pastor George Hilton para
o ministério dos esportes, Cid Gomes para o ministério da educação e outros
trinta e tantos ministros ela queimou a desculpa dada por Lula em 2005 para se
livrar da responsabilidade das delinquências de seus auxiliares diretos. Em comum
esses nomes tem um histórico de denúncias cabeludas que a qualquer um os
tornariam desqualificados para o exercício dos cargos. O ex-governador Cid
Gomes jamais teve em sua carreira política nenhuma ligação com as discussões
sobre a educação. O ponto de maior destaque de sua carreira ocorreu quando ele
fretou com dinheiro público um jatinho para levar a mulher e a sogra para
passear pela Europa. Já o Barbalho filho é herdeiro de umas das figuras mais enlameadas
da política nacional o ex-senador Jader Barbalho que renunciou ao mandato
depois de uma enxurrada de denúncias de uso dos recursos públicos para
favorecer familiares. O caso do pastor evangélico George Hilton é ainda mais
escabroso. Eleito pelo PRB que o renegou, ele se filiou ao PFL que o expulsou
em 2005 depois dele ter sido flagrado num aeroporto com inexplicáveis R$
600,000 na mala. O homem foi expulso do PFL o partido mais escroto do país e
achou abrigo no governo Dilma. Dilma não poderá jamais dizer que não sabia ou
que se sente traída quando escândalos envolvendo esses nomes vierem a público.
Com uns ministros desses o que ela espera que ocorra? Estava certo Eça de
Queiroz, quando disse que de tempos em tempos os presidentes e as fraldas
devem ser trocados, ambos pelas mesmas razões.
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