O silêncio

Foto: Neal Slavin, woman behind glass shard

No interesse da cultura livre, cartunistas, chargistas, libelistas e humoristas ansiaram sempre por empregar a sua arte à qualquer coisa que implicasse embaraço, instabilidade e críticas à regimes e ações humanas contrárias à livre circulação de ideias. Audaciosamente estes homens duvidaram daquilo que muitos temiam pela tradição ou pela intimidação. Ao perspectivarem regimes de ângulos nada favoráveis esses agentes da liberdade destruíram verdades absolutas e ajudaram a deslegitimar e derrubar governos em diversas épocas e lugares, que usavam o argumento da autoridade e da legitimidade para agirem contra o espírito livre. A história nós mostra como as investidas contra as iniquidades de governos, religiões e culturas da morte foram importantes para corroerem essas ideias em favor de ambientes mais saudáveis às relações humanas. O fundamentalismo islâmico, que ora ameaça o frágil sistema de tolerância que harmoniza os homens nas diferenças, é apenas a face recente de um mal que aflige a humanidade em todas as épocas e lugares, a intolerância. Investir contra o avanço do autoritarismo que prega a violência contra as expressões de livre pensamento não é como querem nos fazer crer alguns; desrespeitar a religião dos islâmicos. As investidas satíricas dos cartunistas anarco-libertários do Charlie Hebdo se volta contra o fanatismo daqueles que usam a fé para praticar as maiores atrocidades. Os muitos anos de secularismo em que vivemos talvez não nós deixe ver os muitos males que as religiões fizeram antes de se integrarem ao corpo da sociedade sem imposições macabras, sem empalhamento de inocentes, sem cárceres às opiniões hostis, sem fogueiras às ideias, sem mutilações a obras literárias, sem intimidações a cientistas, sem degredo e morte aos livres pensadores. Estas conquistas não vieram sem levantes daqueles que viram nas práticas dos homens de fé o caráter odioso que impedia a vida de seguir o curso que bem entendesse.
  

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