Fotografar pessoas: os pequenos episódios da vida

Foto: Rogério Soares. Romeiros do Bom Jesus, 2015.
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Em fotografia, interessa-me pouco aqueles temas que não estejam relacionados a pessoas. Não tenho gosto pelas paisagens, apesar de admirar Ansel Adams. Enfada-me fotos do pôr-do-sol. São puros clichês. As flores do campo e os montanhas silentes, não me atraem tanto que façam deles temas de interesse. Também não encontro outra coisa a não ser tédio, nas fotos de arquitetura. Quem consegue passar horas percorrendo as formas de um prédio e de um interior de casa e ainda assim achar naquilo algum interesse maior do que o mero passatempo das horas mortas. Há bem mais coisas no olhar de um homem e nas formas de um corpo que em toda paisagem natural, ou nas figuras geométricas de uma forma arquitetônica. Sem gente os lugares ficam vazios e pouco ou quase nada dizem de relevante, que mereça um registro fotográfico sério. Os motivos humanos são bem mais atraentes. Por isso os dramas humanos em suas múltiplas facetas produzem melhores temas para a fotografia. Mas quem escolhe esse tema, deve estar atento ao fato de que, fotografar pessoas é, acima de tudo, uma atividade que requer muito bom senso. Sei bem dos riscos da natureza da abordagem desse tema. Estar-se sempre correndo o perigo de que as pessoas que você fotografe não gostem da ideia de ser flagrada em sua privacidade. Por certo, existem boas razões para as pessoas manterem a intimidade de suas vidas resguardada de olhares bisbilhoteiros. Por essa razão, sempre que vou fotografar alguém, ou mesmo depois de já ter feito a fotografia, (são sempre tentadores os temas inesperados) peço à pessoa que me autorize a fazer o registro ou que me licencie a foto, depois dela feita. Caso elas recusem - algumas vezes isso acontece - respeito as vontades e apago na frente da pessoa o registro indesejado. Em outras ocasiões as pessoas recebem bem a proposta e se mostram muito dispostas a serem fotografadas. Ocorreu isso ao fazer a foto desses simpáticos romeiros mineiros que estavam de visita ao Santuário do Bom Jesus. Eles me contaram que há décadas visitam a cidade e trazendo consigo, como acompanhante dessa jornada, as suas distintas senhoras. Na ocasião da foto eles já havia visitado o Santuário e entregue ao Bom Jesus as suas preces. Como fazem, em todas as visitas, depois de cumprirem os seus votos sagrados, eles partem para o primeiro bar que encontraram, para desafogar o desejo de provar outras riquezas da terra sagrada. Foi lá que eu os encontrei. Alegres e descontraídos eles me pareceram bem mais jovens do que as imagens da foto depois me sugeriram. O registro dessa foto me fez pensar que: Fotografar pessoas é extremamente gratificante e enriquecedor. Há uma vida e uma história por trás da foto. Há uma singularidade nela que mesmo imperfeita a torna valiosa.  Além do maior interesse em pessoas o que me atrai, neste tipo de fotografia, é o desafio que ela constitui: não é fácil, do ponto de vista técnico, obter o efeito necessário para que a imagem resulte bem. As fotos de pessoas, diferentes de paisagens inócuas, requerem do fotógrafo uma maior atenção àqueles que deseja registrar. Por todos esses motivos e muitos outros gosto de fotografar pessoas e pequenos episódios da vida. 

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