Declaração de princípios.

Desculpem-me os partidos, as seitas, os lóbis, os templos, os ideólogos, os deuses, os mitos (inclusive os de pés de barros e de poucos dedos) mas declaro-me, absolutamente indisponível aos seus apelos. Antes de vocês eu já havia sido seduzido pelas artes, senhora absoluta de minhas vontades.


Contar histórias

Perguntam-me sempre o que me parece ser uma boa fotografia. Digo que não sei o que os outros pensam, mas para mim uma boa fotografia é aquela que conta por si mesmo uma boa história, independentemente das circunstâncias de tempo e de lugar.

Foto: Robert Doisneau: Les Hélicoptères, 1972.


Quando a fotografia não acontece, isso me deixa mal.

Foto: Rogério Soares. Cavalhada na Agrovila 07, Serra do Ramalho - 2015.
.
.
Desde que comprei uma câmera passei a ver dezenas de oportunidades fotográficas à minha volta. Há sempre bons motivos fotográficos espreitando-nos por aí. Dia desses, por exemplo, enquanto aguardava o carro para o trabalho, vi um senhor encostado a uma árvore, aí o imaginei em mil ângulos. De pronto me veio à mente: Por que não ando com a minha máquina a tiracolo? Estava ali uma boa fotografia que não aconteceu. Isso deixou-me mal. Penso que o mesmo se passa com os poetas, os romancistas, ou qualquer um que vive da arte mimética. Os dados da realidade sugerem sempre outras possíveis realidades, que se escondem atrás das aparências, e são tão ou mais interessantes do que a realidade imediatamente percebida. Quando essas realidades se descortinam a nossa frente e não estamos com uma máquina à mão temos mesmo bons motivos para nos recriminarmos por isso.