Paradoxos


Foto: Henri Cartier-Bresson, Bougival, France, 1955.

Sempre que vejo uma fotografia de Cartier-Bresson, tenho a impressão de que ele (ou eu) tem uma fixação pelos paradoxos. É que suas imagens me induzem a pensar sempre nos opostos que caracterizam a vida. Jovem-velho, adulto-criança, homem-mulher, homem-animal, longe-perto, vida-morte.



Manipular imagens



Na eleição passada para prefeito em Caetité, circulou, durante a disputa eleitoral uma foto ridiculamente manipulada. Ao que parece a foto satirizava um dos candidatos que parecia não arrebatar tantos eleitores como o seu discurso mostrava. Uma amiga acusou-se de ser o responsável pela foto, isso porque eu a reproduzi na minha página do face.

Mas esta foto não fui eu que a “fiz”. Não tenho fotoshop, nem talento para lidar com estas modernidades. Tudo isso está longe do meu alcance. Também não ando metendo gente onde não existe e maquilando a realidade. Para isso bastam os políticos. Tenho mais o que fazer.

O que me interessou nesta foto foi a possibilidade de discutir como a fotografia pode ser usada para construir uma realidade e colher com isso melhor resultados perante a opinião publica. Devemos todos estar atentos a isso.

Estudo fotografia a sério. Por isso quando vi a imagem pensei logo na celebre foto de Mathew Brandy que sabendo do poder da imagem para distorcer a realidade, tratou de dar um jeito no desengonçado candidato à presidência dos EUA Abraham Lincoln, quando este veio bater a sua porta para um registro fotográfico, naquela que foi a primeira campanha política em que uma foto foi usada como propaganda.

A fotografia nem bem estreava no mundo e os políticos já a usavam para distorcer a realidade. Até aí nenhuma novidade. Os políticos estão sempre na vanguarda da malandragem.

Mathew Brandy cuidou no registro de Lincoln de disfarçar o seu pescoço desproporcional levantando a gola do colarinho. Também melhorou a sua face retocando os sulcos com maquiagem. É sabido de todos, menos dos eleitores, que Lincoln era banguela. Para parecer imponente e dar uma estampa de candidato sério, Brandy fotografou Lincoln em plano americano (meio-corpo). Nessa perspectiva ele camuflou a sua silhueta do lenhador magricela, pouco confiável ao posto de chefe de Estado da emergente potência.

A foto foi um sucesso. Caiu no gosto do povo. Todos ficaram impressionados com a figura esquia do postulante ao cargo de presidente.

A partir daí, todos que sucederam Lincoln na Casa Branca trataram logo de usar os mesmos artifícios.

O caso mais emblemático foi o de Franklin D. Roosevelt. Vítima de poliomielite aos 39 anos, ele pôde contar com a conveniência dos fotógrafos da época para encobrir o fato de que só conseguia se locomover em cadeira de rodas. Isso sem que a opinião pública jamais chegasse, a saber, de sua condição de saúde. Em seus 12 anos de poder Roosevelt jamais foi mostrado em sua real condição física.

Ao ver a foto na página de um amigo quis trazê-la ao meu espaço para poder discutir, de forma desapaixonada, o poder das imagens na construção de realidades questionáveis. A mim pouco importa que candidato x ou candidato y faça o que faça, interessa-me estar atento e não me deixar embasbacar com massas.


Mais do que mostrar a realidade, a fotografia quer nos fazer acreditar numa narrativa visual que parece séria. Porém, como qualquer discurso ela está prenhe de interesses e cabe a nós aceitá-los ou não.

Amigos

Uns creem que o melhor amigo do homem é o cão, outros, como Vinicius de Morais preferem o Whisky (que o chamou de cachorro engarrafado). Como não sou chegado a bichos e não me cai bem o álcool, tenho os livros na conta dos meus melhores amigos. 

Quadra do tempo da Guerra Civil Espanhola

Na noite em que a mataram
Rosita teve muita sorte
das três balas que apanhou
só uma é que foi mortal


Quadra popular do tempo da Guerra Civil de Espanha, citada por Alexandre O´Neil. O estro popular é fecundo em variantes. A poesia anônima vai do lirismo ao profano, passando pelo humorístico, chegando até o sentencioso onde a sabedoria popular alcança máximas filosóficas que fazem empalidecer os melhores doutores em filosofia. Porém chama atenção essa quadra citada por O´Neil. Ela é incomum. Mesmo preservando as características principais do gênero: a simplicidade do tema e do esquema métrico, ela destoa das outras por não rimar. É a única do gênero que vi até hoje. Como todos sabem a literária popular jamais dispensou o recurso da rima, elemento indispensável para preservação e fixação da memória literária em comunidades sem escrita.

Revelação

Foto: Bruce Gilden.

A gente olha as fotos de Bruce Gilden e não imagina ser possível o que vemos. Diante de nossos olhos surgem rostos macilentos e disformes. Aquilo tudo parece coisa estranha à realidade, porém, não é.

Tão deslumbrados que estamos com as figuras das celebridades, não nos damos conta de que a vida murcha, violentamente, a velocidade de 60 minutos por hora.
Contra isso infundimos um sem-número de malogros, mas todos são baldados pelo tempo.

O que vemos na tevê, nas capas de revistas e outdoors não passa de engodo. Por trás da maquilagem podemos esconder manchas, sulcos e outros detritos que se quer negar a existência, mas tudo isso não passa de ser o que são: tentativas medonhas de negar o inegável.

Por tudo isso, gosto dos trabalhos fotográficos de Bruce Gilden. Ele reconstitui-nos como somos: falíveis. O resultado pode não ser agradável. É sempre doloroso ver-se no espelho da arte.


Façam-me o favor

Sermoneia este que devo votar em seu candidato “ele é mais bem preparado e não tem ligações com grupos corruptos que assaltaram o país”.

Quer outro convencer-me que a verdadeira quadrilha, a Globo e outros meios de comunicação, estão impedindo que eu perceba. Garante ele que seu candidato nada tem a dever. Este se pautou sempre pela lisura e correção chegando a quase ser um santo de tantas bênçãos que derramou e promete derramar sobre o povo.

Um terceiro, igualmente bem intencionado, ofereceu-me provas de que tudo o que reproduzimos não é nosso e sim, de um grupo de ricos que sempre dominaram o Brasil.

A todos agradeço, mas andaria mais bem humorado se me deixassem na ignorância do que as suas cabeças pensam sobre política.

Dos caprichos da política

La Fontaine, o maior fabulista da literatura francesa, dizia fazer uso dos animais para instruir os homens. Claro está que esta é uma forma engenhosa do escritor dizer o quanto é estúpido a natureza humana, que precisa apanhar lições dos bichos para se ilustrar. Perante as notícias que correm, não deixam dúvidas o quanto são mesmo estúpidos os bichos humanos. O país está à beira do precipício, há três anos que não temos governo e os políticos se engalfinham pelo poder.

Dos gestos

"O contador de histórias", do pintor Howard Terpning..

Não é apenas de palavras que se vive o contador, mas também de gestos. Com os gestos o contador mesmeriza a audiência e faz crível a história mais fabulosa de todas. Paul Zumthor o medievalista suíço atribuiu ao gesto um lugar de destaque na fala. Luiz da Câmara Cascudo disse em Literatura Oral no Brasil que de mãos amarrada não há criatura vivente capaz de contar uma história. A pintura de Terpning atesta essa impressão do mestre potiguar.

Ladrão doente

Os jornais falam que Geddel não aguentou ver a polícia em sua porta e mais uma vez voltou a chorar copiosamente. A sua mãe, vendo o filho em lágrimas, disse que ele não era corrupto, mas que sofria de "problemas sério de saúde". Esse problema deve ser: cleptomania. Há muito que essa doença tomou a classe política brasileira. 

A briguinha



O povo tem se revezado em mostrar no face a figura de Geddel sendo elogiado por políticos ora da esquerda, ora da direita. A intenção, suponho, é fazer com que a audiência boco pense que quem pariu Geddel não foi sua mãe, mas sim aquele que nos vídeos e fotos estão ao seu lado afagando, elogiando e reconhecendo os seus préstimos políticos. Algumas pessoas no face, acham que todo o mundo são como elas, que se emprenham pelos ouvidos e estão de pernas abertas para as ideologias. A briguinha pelos corações e mentes revela que a mentalidade dos partidários não chega a rivalizar com uma ameba.

Tempos sombrios

Pessoas que jamais foram a um museu na vida e que nada conhecem de arte, estão tentando impedir outras que se deleitem com a genialidade de trabalhos espantosos, só porque estes mostram corpos nus. Os trabalhos da exposição Santander que ora sofre com a censura nada tem de obsceno. Há algo de doentio no fato de alguém ver pecado ou imoralidade em tudo. Algo de muito errado se passa na cabeça das pessoas que entendem que o nu artístico é merecedor de censura e reprovação. Penso que quem age assim manifesta os sintomas de uma mente reprimida que jamais foi capaz de superar a sua adolescência ou que não chegou a viver a sua sexualidade plenamente. É estranho que isso esteja acontecendo. Imaginei estar ultrapassado em todo o Ocidente a condenação a nudez. Algo vai muito mal no país quando as pessoas não sabem diferenciar arte de exploração sexual.

Ouvido môco

O padre Marcelo Rossi é um fenômeno literário. Seus livros figuram entres os mais vendidos no país desde 2010. Eu mesmo que não sou um leitor de sua obra tenho um de seus livros na estante. Minha mãe me deu no dia de meu aniversário. Ela me disse que eu iria achar grandes lições nas palavras do padre. Não sei de onde ele tirou isso. Da leitura do livro não foi.


Não sou lá muito religioso. Tenho reservas às religiões que figuram por aí. Muito disso por conta do que oiço alguns dizerem sobre o que se passa no interior das igrejas. As pessoas lá, salvo algumas raríssimas almas, estão mais preocupadas em notarem como as outras se vestem. Alguns vão para botarem os mexericos em dias. Em nenhum outro lugar se sabe tanto da vida alheia do que no interior de uma igreja, segredou-me um fiel de crisma e missa. Que o Senhor a todos favoreça é coisa que dizem os padres. Mas eles dizem isso a ouvidos môcos.