ARTE E BELEZA



Tenho encontrado poucas mulheres que não sejam caricaturais. Essa moça é uma delas. Conjugando talento e uma indiscretíssima beleza que não encontra definição precisa, só por isso está sempre sendo comparada com duas ou três outras hermosas raparigas que deem o sentido que a palavra não alcança, ela vem conquistando um razoável prestígio no cinema e nos corações de muitos marmanjos. O último foi o meu amigo Teo que resolveu subi-la ao altar da devoção cinematográfica jurando fidelidade eterna. Infeliz companheiro, a moça já foi fisgada. Cumpre agora a você adorá-la de longe como o resto.

ASSOMBRO

Às vezes gosto de pensar que existem certas vantagens em ser ignorante. O sujeito não tem que se explicar de nada. Não precisa pensar. Não discute e nem se preocupa. Por certo também, não critica. Deixa as coisas acontecerem, como se estivesse sendo arrastado por uma torrente e dela não quisesse se defender. Vive, como se para isso não fosse preciso, gastar um minuto de seu tempo ocupado com as tediantes tarefas de maquinar o cérebro. Munido dos instintos que a natureza lhe deu, sabe que o pulmão faz muito bem o seu trabalho, sem que se lhe diga o que deve ser feito. E só por isso o homem vive. O mesmo pensa do coração, dos rins, do fígado, e de outras e tão sábias partes do corpo que sem pensarem em, como e por que, seguem. Esses sujeitos também, refugando algumas conquistas do intelecto, não se desassossegam nem se inquietam, com o que para outros assaltam os nervos.

ERA UMA VEZ NO OESTE

A chegada de Jill personagem de Claudia Cardinale. Música de Ennio Moricone

Em 1964 como o filme Por um punhado de dólares, o cineasta italiano Sergio Leone (1929-1989) deu forma ao que se convencionou chamar mais tarde de Western Spaghetti. Esses filmes tinham entre outras características a crueza dos personagens principais, que diferentes dos personagens hollywoodianos, andavam sempre mal vestidos, sujos e com intenções inescrupulosas. Os temas giravam em torno da vingança. O filme estrelado por Clint Eastwood teve duas continuações e ficou conhecido como a trilogia dos dólares. Em 1968 Leone realizou, Era Uma Vez no Oeste, uma verdadeira obra-prima. O filme é assustadoramente arrebatador. E tem muitas razões de ser. Primeiro pela peculiar e indistinta narrativa, cheia de silêncios, esperas e ruídos ambientes que se integram ao clima de desolamento e tensão criado nos momentos exatos em que se exigem esses climas. Segundo pela impecável atuação dos atores Henry Fonda, Claudia Cardinale, Charles Bronson e Jason Robards que encarnam com veracidade incomum os seus papeis. E por fim uma trilha sonora, do mestre Ennio Moricone, que dá consistência e caracteriza os personagens. O tema principal da mocinha feita por Claudia Cardinale é especialmente memorável pelo lirismo. Obra impar do gênero, Era uma vez no Oeste, é um filme daqueles tempos em que o cinema era uma expressão artística antes de qualquer coisa.

"QUER OUVIR A MINHA IDEIA PARA UM ASSASSINATO PERFEITO?"

PACTO SINISTRO, 1951
Depois de dois fracassos retumbantes com Sob o Signo de Capricórnio (1949) e Pavor nos Bastidores (1950), Alfred Hitckcock retornou a velha forma em 1951 com Pacto Sinistro, seu 14º filme em Hollywood. Adaptado da obra de Patricia Higsmith, a mesma de O Talentoso Ripley, o filme conta a história de um inusitado e casual encontro que acabará em tragédia, nada mais hithcockiano do que isso. Num trem, Gay, interpretado por Farley Granger - que já havia trabalhado com Hitchcock em Festim Diabólico (1948) - é um jovem campeão de tênis, que segue para sua cidade natal a fim de acertar o divórcio com sua ex-mulher. Gay pretende se casar novamente, agora com a filha de um senador. No meio da viagem ele é abordado por Bruno (Robert Walker), um indiscreto fã que sabe tudo sobre sua vida. Não demora e o simpático Bruno, protótipo do vilão desequilibrado que permeia a galeria dos melhores filmes de suspense, tenta enredar Gay num ardiloso e macabro plano de assassinato. Aproveitando a situação em que ambos acabaram de se conhecer e de que até aquele momento não havia nenhuma ligação entre eles, Bruno propõe a Gay o que considera o plano perfeito. Bruno eliminaria a ex-mulher de Gay, que se recusa a aceitar o divórcio, e em troca, esse se encarregaria de matar o seu pai (o de Bruno). A evasiva recusa de Gay é interpretado por Bruno como um sinal verde para levar adiante o seu projeto homicida. Assim Bruno executa a primeira parte do plano, estrangulando a ex-mulher de Gay num parque de diversões. Avisado por Bruno da morte de Miriam, Gay se desespera; todos pensarão que foi ele o assassino de sua ex-mulher, motivos para isso não faltavam. Interrogado pela polícia o jovem tenista não consegui apresentar um álibi que alivie as suspeitas das pessoas sobre ele. Descontente com as insistentes recusas de Gay, que teima em não cumprir a sua parte no "pacto", Bruno resolve arruinar a vida do jovem esportista, incriminando-o. Como ele havia ficado com o isqueiro de Gay desde o seu primeiro encontro, ele resolve abandonar no local do crime a prova definitiva que ligaria o marido revoltado ao assassinato da ex-mulher traidora. A eletrizante sequência que se segue até a elucidação do crime com muito suspense é tipicamente hitchcockiana. Mestre em criar tipos comuns envolvidos em tramas mirabolantes Hitchcock achou no argumento dessa história o modelo ideal para exercitar o melhor de sua genialidade. Pena que o fraco desenvolvimento do roteiro prejudique o filme. A cena final quando se esclarece o assassinato deixa a desejar. Sem ser o melhor de Hitchcock, Pacto Sinistro oferece assim mesmo bons motivos para apreciar o mestre do suspense.

GATA EM TETO DE ZINCO QUENTE

Maggie (Elizabeth Taylor, 1958)
A propósito do post anterior, que se referia ao leitmotiv da dramaturgia rodriguiana, me ocorreu falar da peça Gata em Teto de Zinco Quente, do teatrólogo norte-americano Tennessee Williams (1911-1983). Sem possuir a mesma voltagem dos personagens rodriguianos, os de T. Williams, se assemelham aos de Nelson Rodrigues, ao demonstrarem a mesma disposição em revelar os estratos menos nobres da personalidade humana. Para além de terem várias de suas obras adaptadas para o cinema e TV, ambos, salvo as devidas diferenças, tem a capacidade de fazerem dos dramas familiares uma reflexão sobre a moralidade, pedra de toque de suas obras. Ambição, revolta, traições, sexualidade reprimida e uma feroz crítica ao moralismo recheiam as peças desses dois maravilhosos autores.

A DESFAÇATEZ DESENCARNADA

A DAMA DO LOTAÇÃO, 1978

Detesto admitir, mas o Teo está coberto de razão. Nelson Rodrigues é sem dúvida o maior teatrólogo de todos os tempos. Dono de uma irrevogável veia polemista, suas obras antes de serem pornográficas ou escandolasas, como querem alguns, na verdade não tolera a hipocrisia de uma sociedade de aparências e dissimulação como a nossa. Seus trabalhos possuem o mérito de escancarar as vilanias, os vícios inominávies de cada um, além de por a nu, literalmente, o que a maioria sempre se esforçou por manter em segredo, até o seu surgimento. Foi justamente essa atitutde francamente desafiadora contra todo e qualquer fingimento, que lhe rendeu uma serie de injurias e perseguições inquisidoras, que duram até hoje. Dizia-se que ele prevaricava a moral e os bons constumes das famílias brasileiras. Altamente moral suas histórias não tem nada de pervertidas. Se as mulheres traem seus maridos; as meninas preferem beijar outras meninas; os pais sodomizarem seus filhos, como vemos em algumas de suas peças, isso se deve antes, a precariedade moral dos homens, não do artista. Suas peças não tem nada de perversão, pelo contrário, como objeto artístico sua função é a de retratar a realidade com a máxima fidelidade. Amoral com certeza é a noção mal disfarçada de que tudo está na mais perfeita ordem.

O ESSENCIAL CONTINUA INVISÍVEL AOS OLHOS

Guardo um talento incomum para gostar de coisas, que para maioria são inúteis. É que nos dias que corre, muitas coisas são tidas como inúteis, e com tudo, ainda as desejo. A maioria delas tem haver com arte. A maioria delas interessa-me. Não por serem, como pensa a maioria (inútil), mas pelo contrario, por renovarem minha fé no homem, um exercício pra lá de exaustivo, que por mais que se esforce é necessário um exercício constante; por exigirem sempre mais, por duvidar das certezas e estilhaçar as verdades, por mais inconveniente que sejam; por incomodarem os parvos e por fim destoar da maioria.

VIDA BREVE

Drª Zilda Arns

No nosso país, dificilmente tem-se alguém para admirar. Essa espécie de gente rareia a cada dia. Por isso, a noticia da morte da Drª Zilda Arns, no terrível terremoto que sacudiu o Haiti nessa terça-feira 12, torna o fato ainda mais penoso.

ÉRIC ROHMER


A nota triste do início dessa semana foi a notícia da morte, nessa segunda feira 11, do realizador francês Éric Rohmer (1920-2010). Com mais de 50 filmes no currículo, Rohmer foi professor de Letras e escritor antes de integrar o grupo de jovens entusiasta de cinema, fundadores do movimento Nouvelle Vague. Ao lado de Jean-Luc Godard, Jacques Rivette, François Truffaut e Claude Chabrol, futuros diretores de cinema, iniciou sua carreira como crítico da mítica revista de cinema Cahiers du Cinéma. No Brasil temos varias de suas obras disponível nas melhores lojas.

CONTRA A RACIALIZAÇÃO



Nascido em 17 de setembro de 2009, o blog CONTRA A RACIALIZAÇÃO NO BRASIL, reúne, como podemos ler no, quem somos: cientistas políticos, antropólogos, sociólogos, juristas, historiadores, geneticistas, biólogos, médicos, intelectuais e ativistas de movimentos sociais, interessados em alertar a população sobre os perigos que ronda o país com a implementação de políticas segregacionistas. Vale à pena conferir.

O INCANSÁVEL PENSADOR

Os homens independentes, os livres pensadores, sempre foram acusados, ora de agitadores e inconsequentes, ora, como é o caso agora, de produzirem ideias em nível inaceitável de debate. Tais afirmações para mim sempre soaram falsas. Seu único propósito é o de acomodarem no silêncio as opiniões contrarias a ordem vigente. As recentes discussões sobre as medidas do governo em racializar o problema da educação no país através do Estatuto da Igualdade Racial, demonstram bem o nível das opiniões e dos debatedores. Diferentes pesquisas evidenciam que os brasileiros de todas as cores rejeitam a nova lei (leia pesquisa CIDAN/IBPS aqui), que se aprovada terá como único mérito introduzir, pela primeira vez no país, a primeira lei racial da nossa história. As ações de Demétrio Magnoli e outros incansáveis pesquisadores da questão racial no Brasil, como Yvonne Maggie e Peter Fry vem causando descontentamento entre alguns membros do movimento negro, que, como já era esperado, se comportam muito bem em saber, que a solução encontrada para dirimir o racismo incruento, e as desigualdades sociais entre a população mais pobre, passam ao largo de envestimentos maciço em melhorias da educação básica. Como resposta a esse histórico desafio eles se contentam em celebrarem o orgulho da raça. A gota d´água dessa discussão ocorreu recentemente, quando Demétrio Magnoli escreveu um artigo contra a determinação do ministro Tarso Genro, que queria levantar a origem "racial" dos estudantes brasileiros. Na ocasião Demétrio considerou que essa medida de classificação racial era errada, anticientífica e retrógrada. Alguém discorda? No artigo, ele chamou Tarso Genro de Ministro da Classificação Racial, e considerou-o imprevisto herdeiro de racistas como Nina Rodrigues. Depois disso Tarso Genro processou Demétrio Magnoli. Os patrulhadores de plantão, e aqueles que não se preocuparam em discutirem com sinceridade o problema da educação e da desigualdade no Brasil, veem, desde então, tentanto manchar o currículo de um dos nosso mais atuantes pensadores, acusando-o, entre outras coisas de, "desonesto" e "superficial". Essas opiniões sobre o geógrafo e sociólogo Demétrio Magnoli, refletem a mentalidade tacanha daqueles que não suportam verem suas convicções contrariadas e que, não tendo como contra-argumentar as ideias e opiniões expressas pelos verdadeiros pensadores, desqualificam o homem. Eles preferem o enfrentamento pessoal, ao de ideias. A desqualificação pessoal ocupa a maioria dos discursos dos nossos políticos, pensadores, e tuti quanti. Com isso esquivamo-nos das discussões verdadeiramente importantes e desviamos as atenções para futilidades. Não se aceita discutir com aqueles, cujas ideias não alcançaram um nível aceitável de profundidade intelectual. Com isso minimiza as opiniões de alguém tão "superficial" e sem importância. No Brasil essa foi, e pelo que vejo, continuará a ser uma prática frequente; a dos pensadores cabotinos. Não é de hoje que distendemos atenção a essas maldosas opiniões. Em 1909 o sergipano Silvio Romero escreveu um livro inteiro para desqualificar a figura de José Veríssimo, seu maior desafeto. Nesse mesmo tempo, ele não poupou tinta para espinafrar também, o já consagrado, Machado de Assis. O injurioso livro, Zeverissimações ineptas da crítica, tinha como propósito, segundo seu autor, demonstrar as; como o título já indicava, ineptas qualidades de José Veríssimo e Machado de Assis para literatura. O autor não se preocupou nem por um momento em tecer comentários sobre as obras dos autores. Preferiu antes, atacar as origens de José Veríssimo e Machado de Assis, prova suficiente das inadequações literárias de autores que "o tempo se encarregaria de varrer". Há anos um dos maiores estudiosos do folclore nacional, o potiguar Câmara Cascudo, vem sofrendo de iguais injurias. Seus detratores, acusa-no de superficial, descuidado, e outras baboseiras. Infeliz sina a do país, que não consegue conduzir um debate tão importante para o seu futuro, sem cais na vala comum do bate-boca entre comadres.

SERÃO OS MEUS OLHOS?



3 DE JANEIRO DE 2010, AVENIDA SUL.
5 DIAS APÓS A CHUVA A ÁGUA RECUA LENTAMENTE.

AS METAMORFOSES DO AMOR GREGO


Os deuses gregos sempre tiveram muita intimidade com os corpos. Causaria espanto aos crentes e adoradores de outras seitas, a forma desabusada com quanto os deuses e deusas se amavam. Para eles não havia nenhum tipo de castidade inviolável, amava-se fácil. Devemos a essa civilização muitas das grandes realizações do intelecto humano, o teatro, a música, a filosofia, as leis. Nenhum desses feitos, no entanto, foi capaz de ombrear ao ensinamento divido da enamoração dos corpos. Criem quantas amarras puder, nenhuma, subjugará a força dos corpos. Os santos cristãos estão todos sempre pudicamente cobertos de mantos, túnicas, e farta vestimenta aveludada. Nenhuma intrusão penetra a casta intimidade das santinhas. Seguros de preservarem assim a dignidade divina, eles seguem pesando as consciências contra a adoração dos corpos. Com efeito, todo esse cuidado não passa de uma mentira. A beleza dos corpos sempre foram maiores que qualquer repressão. A pudicidade cristã mal disfarçou sempre a tentação dos olhos. Não fosse assim, como explicaríamos tantos seios desnudos nas representações da virgem. Ocultado num gesto maternal o cristão ama clandestinamente.

POLÍTICA

Por mais que eles insistam em afirmarem o contrário, o que a maioria dos homens públicos brasileiros fazem, é qualquer outra coisa, menos política. Salvo honrosas exceções, facilmente nomeadas: Suplicy, Soninha, Marina Silva, Gabeira, Pedro Simon,...não vejo no quadro da política nacional qualquer outro nome digno de ser chamado de político. Agora, se pervertermos o termo que até pouco usávamos pra distinguir os homens e mulheres, encarregados de governarem com zelo a coisa pública, ai faltarão espaço para listar nomes e maus exemplos. Esses últimos temos sem conta.

AO DESPERTAR ESSA MANHÃ



Dois acordes de guitarra e dois de bateria. São quanto me basta para despertar do estado de bovinidade.