
ARTE E BELEZA

ASSOMBRO
ERA UMA VEZ NO OESTE
A chegada de Jill personagem de Claudia Cardinale. Música de Ennio Moricone
Em 1964 como o filme Por um punhado de dólares, o cineasta italiano Sergio Leone (1929-1989) deu forma ao que se convencionou chamar mais tarde de Western Spaghetti. Esses filmes tinham entre outras características a crueza dos personagens principais, que diferentes dos personagens hollywoodianos, andavam sempre mal vestidos, sujos e com intenções inescrupulosas. Os temas giravam em torno da vingança. O filme estrelado por Clint Eastwood teve duas continuações e ficou conhecido como a trilogia dos dólares. Em 1968 Leone realizou, Era Uma Vez no Oeste, uma verdadeira obra-prima. O filme é assustadoramente arrebatador. E tem muitas razões de ser. Primeiro pela peculiar e indistinta narrativa, cheia de silêncios, esperas e ruídos ambientes que se integram ao clima de desolamento e tensão criado nos momentos exatos em que se exigem esses climas. Segundo pela impecável atuação dos atores Henry Fonda, Claudia Cardinale, Charles Bronson e Jason Robards que encarnam com veracidade incomum os seus papeis. E por fim uma trilha sonora, do mestre Ennio Moricone, que dá consistência e caracteriza os personagens. O tema principal da mocinha feita por Claudia Cardinale é especialmente memorável pelo lirismo. Obra impar do gênero, Era uma vez no Oeste, é um filme daqueles tempos em que o cinema era uma expressão artística antes de qualquer coisa.
"QUER OUVIR A MINHA IDEIA PARA UM ASSASSINATO PERFEITO?"
GATA EM TETO DE ZINCO QUENTE

A DESFAÇATEZ DESENCARNADA
O ESSENCIAL CONTINUA INVISÍVEL AOS OLHOS

Guardo um talento incomum para gostar de coisas, que para maioria são inúteis. É que nos dias que corre, muitas coisas são tidas como inúteis, e com tudo, ainda as desejo. A maioria delas tem haver com arte. A maioria delas interessa-me. Não por serem, como pensa a maioria (inútil), mas pelo contrario, por renovarem minha fé no homem, um exercício pra lá de exaustivo, que por mais que se esforce é necessário um exercício constante; por exigirem sempre mais, por duvidar das certezas e estilhaçar as verdades, por mais inconveniente que sejam; por incomodarem os parvos e por fim destoar da maioria.
VIDA BREVE
No nosso país, dificilmente tem-se alguém para admirar. Essa espécie de gente rareia a cada dia. Por isso, a noticia da morte da Drª Zilda Arns, no terrível terremoto que sacudiu o Haiti nessa terça-feira 12, torna o fato ainda mais penoso.
ÉRIC ROHMER

CONTRA A RACIALIZAÇÃO

O INCANSÁVEL PENSADOR

AS METAMORFOSES DO AMOR GREGO

Os deuses gregos sempre tiveram muita intimidade com os corpos. Causaria espanto aos crentes e adoradores de outras seitas, a forma desabusada com quanto os deuses e deusas se amavam. Para eles não havia nenhum tipo de castidade inviolável, amava-se fácil. Devemos a essa civilização muitas das grandes realizações do intelecto humano, o teatro, a música, a filosofia, as leis. Nenhum desses feitos, no entanto, foi capaz de ombrear ao ensinamento divido da enamoração dos corpos. Criem quantas amarras puder, nenhuma, subjugará a força dos corpos. Os santos cristãos estão todos sempre pudicamente cobertos de mantos, túnicas, e farta vestimenta aveludada. Nenhuma intrusão penetra a casta intimidade das santinhas. Seguros de preservarem assim a dignidade divina, eles seguem pesando as consciências contra a adoração dos corpos. Com efeito, todo esse cuidado não passa de uma mentira. A beleza dos corpos sempre foram maiores que qualquer repressão. A pudicidade cristã mal disfarçou sempre a tentação dos olhos. Não fosse assim, como explicaríamos tantos seios desnudos nas representações da virgem. Ocultado num gesto maternal o cristão ama clandestinamente.
POLÍTICA
AO DESPERTAR ESSA MANHÃ
Dois acordes de guitarra e dois de bateria. São quanto me basta para despertar do estado de bovinidade.