24
de
dezembro
A Espanha Cabralina
A Espanha exerceu fascínio em inúmeros artistas. Quem conviveu com a arte, a dança, a música ou mesmo com a arquitetura espanhola de inspiração moura, jamais saiu ileso de sua presença. Em 8 anos de Sevilha, o poeta João Cabral colecionou poemas que transparecem seu encanto pela cidade e pelo país ibérico. Alguns dos seus melhores poemas, ao menos para mim, falam das paisagens sevilhanas, com sua arquitetura monumental, dança e principalmente seus toureiros que metaforizaram a poética cabralina e ilustraram as lições ascéticas desse poeta incontornável. Vejam só esse belo exemplo:
LEMBRANDO MANOLETE
Tourear, ou viver como expor-se;
expor a vida à louca foice
que se faz roçar pela faixa
estreita da vida, ofertada
ou touro; essa estreita cintura
que é onde o matador a sua
expõe ao touro, reduzindo
todo seu corpo ao que é seu cinto,
e nesse cinto toda a vida
que expõe ao touro, oferecida
para que a rompa; com o frio
ar de quem não está sobre um fio.
Agrestes - 1985
9
de
dezembro
Cativo
Existem vários tipos de
cativo. Iludem-se aqueles que associam o cativo apenas àquele individuo emparedado
nas grades de uma prisão. Essa é uma boa imagem, entre tantas, que podemos usar
para ilustrar os muitos e variados modos de se estar privado de suas faculdades
mais essenciais; a liberdade. Digo essenciais pensando em meu espírito, que não
tolera a ideia de cárcere, de nenhuma espécie, seja ele político, religioso,
tributário, social. A outros o cárcere nem é tão importante assim, pois não
esboçam nenhuma resistência às amarras, paredões, e outras engenhosas formas de
submissão. Mesmo o indivíduo que vive em um estado que lhe permite o gozo de
suas liberdades, mesmo esse, pode ilusoriamente imaginar pertencer realmente a
uma sociedade de livres, quando na verdade as evidências de sua vida o
desmentem. Há muitas arapucas dispersas
por aí prontas para abocanharem os últimos insubmissos na selva das cidades.
Não se tolera, mesmo que se diga o contrário, a hipótese de alguém viver livre
de qualquer grilhão. De certo modo, temesse esses indivíduos ou invejam-lhes a
coragem, não sei, mas acho que a segunda hipótese tem uma dose maio de verdade.
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